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Consultório técnico: As tecnologias do Futuro
Contribuído por jmce em 21-07-99 12:26
do departamento hard-copies
And now for... :-) Em resposta ao recente artigo sobre uma profecia de Nostradamus, o Gildot foi inundado com dezenas de questões como a seguinte: "Caro Gildot: tendo em conta a possibilidade de a civilização tal como a conhecemos não passar deste Verão, acham que devo continuar a preocupar-me com o "bug do ano 2000"? Ja' agora, acham possivel que o Linux resista à catástrofe? Há alguma coisa que eu possa fazer para proteger os meus computadores e os meus ficheiros? -- Sysadmin Preocupado". Procuramos, no desenvolvimento, responder a estas questões.

Caro Preocupado:

Dependendo da natureza das calamidades a suceder (e caso realmente aconteçam), é possível que os sistemas Linux se mantenham em funcionamento, e nesse caso, excluindo factores externos, é sabido que poderão depois funcionar sem administração durante muito tempo. Por isso, é boa ideia tomar desde já as precauções necessárias com algum software de qualidade mais duvidosa que instalar no seu sistema, bem como com as relações entre os seus sistemas Linux e outros a eles ligados.

Quanto a proteger os seus sistemas, mesmo que temporariamente, contra o futuro incerto que nos espera, convém talvez arranjar-lhes um sítio aconchegado, uma UPS bastante grande (Grande) e alguns geradores com arranque automatizado. Um sistema de backup em discos magneto-ópticos com robot de mudança de disco será importante para assegurar um armazenamento a longo prazo após o Grande Shutdown Final algum tempo depois, quando se acabarem as fontes de energia ou acontecer algo igualmente inconveniente. Embora teoricamente fossem possíveis uptimes de dezenas de anos e se possam instalar facilmente mecanismos de redundância e fail-over, é de ter em conta a baixa durabilidade do hardware à escala geológica. Os analistas da indústria não prevêem aumentos dramáticos dos valores de MTBF de qualquer dos componentes até ao fim do Verão.

Neste domínio da preservação de informação para os eventuais Vindouros, é também de estudar a aquisição de grandes quantidades de pedra, argila ou materiais de características semelhantes, impressoras para pedra (eventualmente laser ou jacto de areia) e software adequado, dada a fiabilidade comprovada desta forma de arquivo de informação.

Pedra? Sim. Nas (poucas) revistas da especialidade tem-se discutido animadamente duas tecnologias concorrentes para o formato do suporte:

  • Placas de formato reduzido (o chamado Processo Babilónico), sistema "fine-grained" que se distingue pela portabilidade, modularidade, adequação a sistemas distribuídos e facilidade de arquivo, reprodução e transmissão; espera-se uma grande popularidade deste formato no mercado doméstico e no das PMEs. A Adobe anunciou já o desenvolvimento de um Portable Tablet Format, para o qual fornecerá em breve diversas versões do (ainda em desenvolvimento) Carrier Acrobat. Este formato recebeu o apoio entusiástico da Free Stone Foundation.
  • Paredes verticais de grandes dimensões (o chamado Processo Egípcio), um sistema de "massive storage capacity" especialmente adequado às necessidades das grandes empresas, alegadamente com óptimas características de segurança, robustez e fiabilidade; os defensores desta tecnologia alegam um menor "total cost of ownership", em especial devido à praticamente nula necessidade de administração pós-armazenamento. Alguns detractores do processo chamam a atenção para o alto custo envolvido em realizar os esssenciais backups off-site. A Adobe não se esqueceu de investir neste formato também, com um revolucionário Panoramic Document Format e os correspondentes leitores Climbing Acrobat.

Ainda no que se refere ao Processo Egípcio, há duas variantes em forte competição: a Monolítica, bastante popular junto das multinacionais com grandes recursos logísticos e territoriais e avançada pela International Bulldozer Machines, e a Modular, proposta pela MicroBlock, supostamente mais fácil de configurar e dimensionar de acordo com as necessidades especificas do cliente. No entanto, segundo alguns comentadores, a instalação do sistema Modular tem custos excessivos escondidos, já que exige grandes equipas de administradores de sistemas, que terão de ser treinados no "deployment" de um produto "pesado" que não lhes é familiar. O departamento de marketing da MicroBlock tem tentado minimizar o impacto de discussões recentes que comparam o problema ao da construção das Grandes Pirâmides.

No campo dos Protocolos Abertos, a W3C está a criar extensões ao HTML 4.0 Transitional para melhor suportar as nuances associadas a este suporte, de forma a podermos (continuar a) expor de forma legível alguns dos documentos hoje na WWW. Espera-se dentro de uma semana um "HTML 4.1 Really Final" com Cascading Style Sheet Engraving Extensions. Recorda-se que neste novo meio é especialmente importante um apropriado "graceful degrading" perante a (progressiva) redução de resolução e que não há nele qualquer suporte para CGIs, HTML dinâmico, cookies, animações, scrolling, audio, video, sendo tambem limitada a utilidade do uso de frames. Não esquecer tambem as reduzidas dimensões das "browsing tablets" no Processo Babilónico. Qualquer documento concebido para ser "best seen on an Egyptian-type browsing wall with 60m × 40m" será naturalmente considerado um exemplo atroz de "Bad Style", e terá, apesar do seu impacto visual imediato, uma audiência muito mais reduzida, limitada aos leitores com acesso às paredes adequadas.

Soubemos ainda que, em grande segredo, foi interrompido o trabalho em curso em quase todos os browsers tradicionais de forma a conseguir a tempo produtos capazes de suportar os novos formatos. Entre os novos browsers destacam-se:

  • o Monument Explorer da MicroBlock, fortemente integrado com o sistema Walls 2000 da mesma empresa (a qual tenta já impor como facto consumado a designação World Wide Walls para a sucessora da WWW);
  • o LandScape Communicator, desenvolvido pelo consórcio Sun/LandScape/America-on-Lava e que integra a nova tecnologia Java Volcanic Sediments, entusiasticamente apoiada pela International Bulldozer Machines;
  • e, finalmente, o Argilla, um browser apadrinhado pela Free Stone Foundation e que, ao contrário dos anteriores, orientados sobretudo para suportes de tipo "Egípcio", inclui já todos os mecanismos adequados para suportar os standards relacionados com o processo "Babilónico"; há no entanto receios de que o desenvolvimento deste revolucionário browser não esteja concluido antes do dia 11 de Agosto, pelo que alguns sugerem a paragem imediata do desenvolvimento, a disseminação de tabuinhas com a árvore CVS do código, e a elaboração de documentação que possa no futuro servir de apoio a quem tentar finalizar o projecto.

Inquiridos os programadores sobre a notória ausência de números de versão nestes produtos, a resposta foi surpreendentemente uniforme: "Só vamos ter mesmo tempo de fazer uma; quem vier a seguir que se amanhe" (tradução liberal).

*

E ficamos por aqui neste primeiro artigo sobre as Tecnologias do Futuro, do nosso consultório técnico "As Novas Tecnologias e os Desafios do Amanhã: o Impacto das Catástrofes Planetárias".

No próximo artigo, abordaremos uma questão que tem passado totalmente despercebida na imprensa especializada mas em relação à qual muitos dos nossos leitores nos tem confessado alguma apreensão: o problema da preservação dos Pinguins de Peluche nos eventos catastróficos à escala global. Ao contrário do que esperávamos, o problema não está a ser descurado. Entre outras revelações surpreendentes, mostraremos o trabalho pioneiro que a Agência Espacial Europeia tem desenvolvido neste campo, e publicaremos uma entrevista com uma equipa de eminentes cientistas portugueses a quem foi já garantido apoio governamental e fundos comunitários para a aquisição à ESA de um kit miniaturizado de um dos módulos, a ser totalmente desembalado e montado por elementos da referida equipa num laboratório nos arredores de Lisboa. Uma empresa alemã ofereceu-se já para colaborar enviando uma equipa especializada de 42 pinguins de peluche em miniatura.

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