Não sei qual a proporção de "big boys" envolvida, mas tenho ideia de que muito do que está envolvido e incomoda alguns reais big boys (com interesses por trás da CARP) são de facto pequenas rádios que se distinguem por alguma diferença em relação ao mainstream que vai a reboque das editoras em termos do que nos impinge ao longo do dia (e da forma como o impinge). Pouco tinha experimentado deste tipo de estações até agora, mas nos últimos dias dei comigo a ouvir muitas horas da RadioParadise, "abusando" um bocadinho da ligação ADSL sem limites de tráfego, com streaming a 128kb/s quase sempre sem soluços. A coisa parece pertencer a um casal, e tem 0 de publicidade (pelo menos em termos de "anúncios"). Parte das receitas vem de contribuições voluntárias, e estou a pensar seriamente em contribuir alguma coisita. Isto faz lembrar a discussão em torno dos pagamentos no Slashdot (para onde também ainda não contribuí). O problema é que a partir de certa escala é difícil manter alguns serviços sem arranjar fontes de receitas, por maior que seja a boa vontade. E quando chega essa altura, a questão chave é: quem é o cliente? Que interesses queremos que estejam representados no conteúdo? É que nos grandes media, como a TV que nos entra em casa "gratuitamente" da SIC e da TVI, nós não somos o cliente, somos a mercadoria apanhada com o isco da programação e que a estação depois vende aos patrocinadores em grandes pacotes de "eyeballs". Claro que acabamos por pagar à mesma tudo através dos produtos que compramos, mas aí portamo-nos de forma muito mais pacifica do que se nos dissessem explicitamente que íamos ter de pagar um "imposto" ou "taxa" de TV (mesmo que essa taxa fosse bem mais baixa do que talvez paguemos só a comprar detergentes). Falo disto porque de vez em quando (muitas vezes?) falhamos o alvo, atacando um ou outro serviço como o Slashdot que já só pode viver sendo pago de alguma forma (mesmo tendo de se curvar, de forma potencialmente suicida, perante anunciantes que não se importam de nos dar nojo aos aos sítios que poluem com banners gigantes e pop-ups e pop-unders e sabe-se lá mais o quê) mas não queremos ser nós a ajudar a pagar, nem que seja de forma voluntária. Falhamos o alvo quando nos esquecemos que boa parte do problema vem de quem tem interesses em criar barreiras à entrada com subidas de custos e legislação feita à medida dos interesses privados, como já aconteceu na imprensa há muito tempo (por exemplo na Grã-Bretanha no século passado, primeiro com leis repressivas e taxas altíssimas e depois, com mais sucesso, com o "funcionamento normal do mercado"), e depois na rádio, e depois na televisão. O mesmo processo parece estar a passar-se na Internet, um mundo onde, pelo menos por enquanto, a página pessoal mais íntima pode estar à mesma "distância" de nós que as páginas de qualquer governo ou multinacional. Naturalmente, isto não é cómodo para quem tem como objectivo essencial tornar a Internet "segura para o negócio" no sentido de ser apenas mais um sucedâneo da televisão por cabo, um meio para despejar conteúdo unidireccionalmente sobre massas passivas. "Content [o deles, claro] is king" é o mantra entoado nos lobbies. E quando entoamos outro, "information wants to be free", podemos facilmente lembrar-nos dos tostões mas esquecer-nos do significado mais importante (de liberdade) da palavra "free". É que se os vendedores do "content is king" tiverem sucesso nalgumas das suas intenções, dificilmente teremos informação "free", quer no preço quer na liberdade. Como no UK do século passado, pode nem ser necessário reprimir muito. Basta que os custos subam. Há uns anos vi na CNN uns anúncios interessantes da International Advertising Association em que, por exemplo, de um jornal iam desaparecendo notícias até a maior parte das páginas ficar em branco (como a ameaçar-nos do que seria o mundo sem eles, quando seria interessante ver a percentagem da superfície de um jornal efectivamente dedicado ao jornalismo). Para quem quiser ver, lembram-nos assim a todos quem é, esmagadoramente, o cliente dos media. Finalmente encontrei a coisa online: ADVER TISING: YOUR RIGHT TO CHOOSE. Possivelmente "content is not king", mas talvez não baste ficarmos sentados passivamente à espera do melhor em frente à TV "grátis", para significados arbitrários de "TV", enquanto nos queixamos dos "chatos" que pedem que a gente pague qualquer coisinha onde ainda temos efectivamente alguma liberdade de escolha, onde ainda somos nós o cliente. Os interesses representados na CARP, na RIAA, na MPAA, na BSA, ..., parecem não gostar muito disso. Vendem o peixe do comércio livre e da desregulamentação quando é o comércio genuinamente livre que os incomoda e a intervenção estatal com corporate welfare e legislação à medida que lhes dá oxigénio. |