Esta discussão foi arquivada. Não se pode acrescentar nenhum comentário. | | | eu continuo a achar que o problema é que Portugal tem pessimos gestores no governo... de vez em quando lá aparece um ou outro, mas em áreas localizadas... para mim seria óptimo ter uma comissão permanente da CEE a apoiar e ajudar na tomada de decisão em Portugal :-) ... é de facto uma pena ver que outros países conseguem dar grandes saltos, e portugal continua aos solavancos, em marcha atrás! |
| | | | | eu continuo a achar que o problema e que Portugal nao tem quem vote (ou quando vota nao tem cabeca). |
| | | | o problema é que Portugal tem pessimos gestores no governo O problema de Portugal (entre outros) é de ter péssimos gestores. Não só no governo como fora dele, que tal se verifica. Um bom gestor deve pensar a médio e longo prazo e saber planear para além do dia seguinte, que é algo que verificadamente não ocorre no nosso país. O que é curioso é que algo como a capacidade de desenrascanço e de trabalhar sem planeamento, o que serve para resolver problemas pontuais e que pode ser um grande trunfo sobre povos onde não se faz nada que não tenha sido planeado, acaba por ser um dos factores que mais nos prejudica a médio e longo prazo. Em Portugal basicamente não se planeia, desenrasca-se. Por outro lado, sempre se encarou como uma das grande vantagem competitiva do nosso país são os salários baixos, em vez de se apostar na qualidade e diferenciação dos produtos bem como no know-how do país.. Já para não falar que se equaciona produtividade com trabalhar muito, quando produtividade é na realidade trabalhar bem.. Por outro lado, os ex-paises de leste, na sua maioria além de terem salários mais baixos, têm uma população com um grau de instrução claramente superior ao de Portugal (onde a taxa de escolaridade é das mais baixas da UE, se não mesmo a mais baixa), portanto a vantagem competitiva destes países é obviamente superior.. só alguém que tenha andado a dormir este tempo todo é que não vê que Portugal irá ser complatamente cilindrado quando estes países aderirem á UE.
-- What, Me Worry? |
| | | | Pessoalmente acho que "Globalização" só por si não diz nada, embora seja um termo na moda "vendido" nos media com diversos significados teóricos (quer dos lados ditos a favor quer dos ditos contra) e seja usado para etiquetar superficialmente um conjunto de práticas nem sempre ligadas a essas visões teóricas. Antes de começar a discutir globalização (para além da definição de marketing mais imediato do FMI com link no artigo) convém portanto saber o que cada um entende por ela... já que o termo é usado em muitos sentidos. Uma das ideias sobre a palavra propriamente dita (daí ter falado de "marketing" acima) é ela ter sido escolhida para que ao olhar para a palavra (e algumas linhas de teoria simples), pareça estúpido rejeitar o conceito (qualquer que ele seja). Assim, para a discussão não ficar pelo pior nível de mesa de café ou pelas superficialidades "esquerda vs direita", tipo "Saramago fala contra a globalização mas vive noutro país e palestra num terceiro", será interessante cada um contribuir com que sabe ou julga que sabe do que são as ideias por detrás da coisa (no mínimo ao nível de documentos de divulgação como o citado, mas melhor se for mais longe), e, bem mais importante, de qual é a prática real que lhe é associada (the more hard facts the better), e os resultados dessa prática. Como o leitão é o proponente do tema, convido-o a dar o pontapé de saída... :-) |
| | | | | Aque vai minha definição de "globalização": globalização é o efeito da liberdade Liberdade de ir e vir, levar e trazer, comprar e vender, independentemente das regras absurdas que os governos costumam fazer para proteger os produtores e prejudicar os consumidores. Perguntar quais são as ideias por trás da globalização não faz sentido. A globalização é um efeito, não uma ideologia... A ideologia é o comécio livre, A globalização é um efeito da queda das barreiras artificiais ao livre comércio e da tecnologia de comunicações. O próprio termo globalização é uma criação dos que se opõem a essa liberdade, um chavão onde se esconde a defesa de inúmeros interesses especiais contra o interesse geral, que é melhor servido pela liberdade para escolher. Espero que nesta discussão apareçam exemplos de como a globalização é má para estes ou para aqueles... Espero ser capaz, em todos os casos, de mostrar que é um argumento do tipo "protejam o produtor, impedindo o consumidor de escolher", ou, dito de outra forma, proteger os interesses "concentrados" de grupos restritos contra os interesses "diluidos" de grupos alargados. |
| | | | Nao podia concordar mais.
-- "Why waste negative entropy on comments, when you could use the same entropy to create bugs instead?" -- Steve Elias |
| | | | Definindo globalização assim, eu acho que poderia dizer que sou a favor da globalização. Entusiasticamente. Até concordo que a definição do termo "globalização" tenha vindo de quem está contra essas liberdades. O problema está naquilo que é menos óbvio. A prática de quem mais se diz a favor da globalização (não aqui neste fórum, mas nas maiores instâncias a nível internacional) corresponde ao ideal que acabaste de descrever? E quem mais usa o termo "globalização", que dizes corresponder à defesa de interesses especiais? Agora o trabalho espera, mas espero mais logo (ou amanhã...) voltar e dar alguns exemplos pouco cor-de-rosa. |
| | | | Não se pode dizer que seja uma definição, mas é uma excelente abordagem ao problema de se saber o que é que a palavra significa. Em jeito de comentário sobre um assunto relacionado, acrescento outra contribuição nesse sentido. Em ambiente de liberdade, um negócio só se concretiza quando ambas as partes ganham. Esta coisa básica pode ser enunciada como Teorema, e a demonstração por redução ao absurdo é imediata: Se alguma parte não ganha, não faz o negócio (coisa possível, pois o ambiente é de liberdade). Somando (integrando) este efeito em todos os negócios duma sociedade livre, conclui-se que actividade económica duma sociedade livre faz com que todos ganhem. Isto não surpreende, pois a mera observação do fenómeno económico mostra uma história de crescimento década após década. Em termos absolutos, estamos todos cada vez mais ricos. A evidência acima, de que apenas se realizam os negócios em que todos ganham, deita por terra o conceito de exploração. É extraordinário que tanta gente bem intencionada continue a batalhar contra a "exploração" (do homem pelo homem), quando se olharmos com mais atenção concluimos que a exploração, em ambiente de liberdade, não existe. Exploração é, por definição, um negócio em que uma parte ganha e outra perde, e é (devia ser) evidente que tais negócios não ocorrem em liberdade. Mas nem todos os ambientes são de liberdade. Uma bandeira tradicional da Esquerda é exactamente a luta contra a exploração do homem pelo homem. E é uma boa bandeira. Posso não concordar com os métodos preconizados pela Esquerda para essa luta (métodos de regulamentação, por exemplo através de leis de protecção de postos de trabalho e imposição de salários mínimos rígidos, em vez de métodos de libertação que fazem funcionar o teorema que diz que em liberdade todos os negócios são bons negócios), mas essa é outra conversa. Onde a Esquerda entra neste assunto é na ideia de que há exploração (ou seja, negócios em que apenas ganham uns). Outra slogan típico de esquerda relacionado com este problema é o de "tirar aos ricos para dar aos pobres". Este slogan parte do princípio, errado, de que em economia para uns ganharem é necessário que outros percam. Esta visão é compatível com a ideia de exploração acima, e enferma dos mesmos erros. Se é verdade que é bom "dar aos pobres", também é verdade que isso se consegue sem ser necessário tirar aos ricos. Como escrevi acima, a economia cresce sempre. A economia é um jogo de soma positiva, mas o slogan de "tirar a uns para dar a outros" pressupõe, erradamente, que ela é um jogo de soma nula. Este erro é terrível, pois transmite uma ideia (enganadora) muito intuitiva. Daí para o aproveitamento dessa ideia para fins políticos, de mobilização e de fomento de revoltas, vai o passo dum anão. O resultado prático é fazer os pobres lutar por uma situação que alimenta a sua pobreza: Em vez de lutarem por um sistema de negócio livre em que todos ganham, lutam por uma sociedade em que é preciso regular (limitando a liberdade) no sentido de tirar a uns para, alegadamente, dar a outros -- quando na realidade se tira a todos sem benefício de ninguém e a sociedade empobrece como um todo. Regressando ao problema da globalização (e do significado da palavra), as ideias de esquerda erradas (principalmente a ideia de que a economia é um jogo de soma nula) conduzem naturalmente à ideia de que a globalização é má -- pois serviria apenas para dar aos mais ricos acesso à pouca riqueza que ainda resta aos mais pobres. No entanto o que acontece é exactamente o oposto: A globalização permite aos mais pobres negociar, em liberdade, com outros mais ricos e que lhes podem oferecer negócios melhores do que os que eles podiam fazer sem globalização. Podemos procurar um suporte adicional à ideia de que a liberdade é uma coisa boa para a economia, olhando para o mapa e constatando que as sociedades mais livres e globalizadas são também as mais ricas. O comércio livre é a mais poderosa invenção da Humanidade para combater a pobreza. A razão porque não me preocupa muito definir rigorosamente o que é ou não a globalização é esta: A definição rigorosa seria inútil, pois apenas introduziria correcções de escala ínfima a um problema que vive e se alimenta de erros brutais como a ideia de que a economia é um jogo de soma nula. Neste contexto, desejar definições rigorosas é uma perda de tempo e uma péssima aplicação dos recursos neuronais disponíveis. Há que desmontar, antes de tudo, a ideia de que a economia é um jogo de soma nula. Há que interiorizar e transmitir a ideia de que em liberdade todos os negócios são bons para todos os negociantes. As ideias erradas correntes fazem com que multidões bem-intencionadas combatam contra a globalização (indefinida tanto para eles como para mim), quando os objectivos dessas pessoas seriam atingidos exactamente por uma maior globalização. |
| | | | Dois comentários... Em relação à questão da realização dos negócios em liberdade, há aí um ponto fundamental que falta, e que pode ser aproveitado pela esquerda: " Em ambiente de liberdade, um negócio só se concretiza quando ambas as partes estão convencidas que ganham. ". Ou seja, as pessoas podem cometer erros, e se os cometerem prejudicam-se... Uma das bases do pensamento de esquerda é precisamente impedir as pessoas de se prejudicarem, limitando-lhes a liberdade Não é preciso ir muito longe para ver onde isto nos leva... Em relação ao jogo de soma nula, estás enganado :) Se juntares as opiniões dos activistas anti-globalização, chegas à conclusão que é um jogo de soma negativa! Vejamos: os chineses fazem bonecos baratos que vendem no ocidente... Argumentos anti-globalização: - os chineses são explorados pelos baixos salários e más condições de trabalho
- os ocidentais vão para o desemprego pela concorrência desleal
Assim se conclui que toda a gente perde, logo jogo de soma negativa! Este tipo de raciocíno é típico dos anti-globalização: basta ver como aquele aricultor francês que entra de tractor nos McDonalds (sem ser pelo McDrive) é entusiasticamente recebido no Brasil. Será que ninguém percebe que o preograma dele é precisamente impedir que países como o Brasil possam exportar produtos agrícolas para a Europa? |
| | | | Em relação à questão da realização dos negócios em liberdade, há aí um ponto fundamental que falta, e que pode ser aproveitado pela esquerda: " Em ambiente de liberdade, um negócio só se concretiza quando ambas as partes estão convencidas que ganham. ". Inteiramente de acordo. E a própria ideia de fazer negócios em liberdade é problemática. Que "liberdade" é essa? De que formas pode ser limitada? Com criatividade, ela pode ser limitada de maneiras não óbvias, de forma que a vítima da perda de liberdade não se dá conta de que não é livre. Por exemplo, limitando o acesso da vítima a informação que lhe permitiria escolher doutra forma, sem que a vítima se dê conta disso. Ou meramente limitando as opções de escolha. No entanto não quis entrar por este tipo de discussão, pois ele reúne uma combinação maléfica de interesse e irrelevância. Interessa-me mais frisar claramente os pontos essenciais, que são simples e cristalinos e que se aplicam na esmagadora maioria das situações. Deixo conscientemente de lado casos com influência marginal no resultado final para não prejudicar as coisas que realmente contam. Seja como fôr, há uma pergunta que eu faço sempre quando me referem as crianças exploradas na China e os subornos a governos corruptos africanos para obter vantagens na exploração dos recursos mineiros, promulgação de legislação "conveniente" ou, pior que tudo, despejo de resíduos tóxicos. A pergunta é: E daí? Seria diferente sem globalização? Não estamos a misturar alhos com bugalhos? A minha tese é de que todos esses problemas existem independementente da globalização, e de que a globalização ajuda a minorar esses problemas. Por vezes diz-se que se está contra a globalização quando se quer dizer de facto que se está contra o facto de haver entidades (as mais referidas, nunca entendi porquê, são as empresas multinacionais -- e nunca entendi porquê porque as entidades mais poderosas e influentes são Estados e não empresas!) com um poder enorme, e que se está contra o uso que por vezes elas fazem desse poder. Acontece que esse poder existe haja ou não globalização. Dizer que se está contra ele faz tanto sentido como dizer-se que se está contra as fases da Lua. E mais uma vez, a globalização não piora os abusos de poder que inevitavelmente ocorrem, bem pelo contrário, pois contribui indirectamente para transportar o que antes era secreto para a luz do dia. Ao misturar toda essa problemática com a questão da globalização, faz-se um péssimo serviço: Com base na observação de fenómenos que ocorreriam fosse em que circunstâncias fosse, lança-se a desconfiança num processo de liberalização de comércio e movimentos que é, como referi antes, a mais formidável máquina que a Humanidade inventou para combater a pobreza. Um péssimo trabalho, de todos os pontos de vista. |
| | | | Tens uma tese. Tens dados para apoiar a tua tese? O exercício do poder é inexorável? Que uma empresa grande tem por princípio poder pode ter pouco a ver com globalização, qualquer que seja o sentido que lhe dês (mas a afirmação é trivial no sentido abstracto). Já ver algo tão inexorável como as fases da lua que a empresa seja autorizada a poder mudar todas regras do jogo à reveia de qualquer controle democrático (tu o sugeres dizendo que é fútil "estar contra") é admitires tu próprio uma deslocação de poderes que tem pouco a ver com liberdade de comércio e muito a ver com fim do controle democrático sobre uma actividades que supostamente abragem muito mais da vida humana do que apenas comércio. O transporte para a luz do dia pelos vistos não é tão ajudado indirectamente pela tal globalização. Pelo menos para a tua percepção dos acontecimentos. Chegas ao ponto de insinuar que as questões envolvidas são estanques, mas justificas a estanquicidade com quê? Com falta de informação em contrário? Wishful thinking e pensando em situações ideais? Ou conheces a prática da coisa e tens dados concretos (não apenas as tuas reflexões de cabeceira) para justificar (ou pelo menos exemplificar): a) como os "fenómenos" (quaiquer que sejam os fenómenos, supostamente sociais, a que te referes) são ortogonais à liberalização do comércio (ou mais exactamente não a uma liberalização abstracta mas à "liberalização" efectiva)? b) como as liberalizações de comércio e movimentos (as concretamente efectuadas) contribuiram para combater a pobreza? E já agora, sabes concretamente quais foram as liberalizações de comércio e movimentos feitos até agora? Como aparentemente pretendes defendê-las como a melhor solução inventada pela humanidade, devo supor que consideras que a invenção, como a descreves, corresponde à prática? E deves ter pontos de comparação com outras invenções da humanidade para combater a pobreza. |
| | | | "Tens uma tese. Tens dados para apoiar a tua tese?" Evidentemente que sabes que não te posso responder cabalmente, mas posso pedir a tua ajuda: Tenho a tese de que a globalização não tem a ver com diversos abusos que se criticam a seu propósito, e que pelo contrário ela ajuda a minorar esses abusos. Peço a tua ajuda para fazeres este exercício: Verifica se esses abusos são coisa nova da Era da Globalização, ou se pelo contrário são uma coisa tão velha como o Mundo. É que se são coisa antiga nada têm a ver com esta modernice da globalização... Quanto à ideia de que a globalização ajuda a minorar os abusos, a coisa entende-se ao nível da informação. Supondo que a globalização favorece os fluxos de informação e que os abusos precisam de secretismo, a globalização dificulta os abusos. Por acaso lembro-me de repente de uma coisa que li há muito tempo não faço ideia onde: Séculos atrás, golpes para tomada de poder eram mais fáceis do que agora porque as coisas se demoravam a saber. Quando as pessoas se apercebiam do sucedido já era tarde demais. Hoje a coisa é muito mais complicada, pois como a informação circula muito depressa, o golpe não se consegue consolidar, gerando uma reacção imediata. A mensagem é a mesma: Tudo o que envolve jogadas "escuras" tem medo da "luz". "O exercício do poder é inexorável?" Tens dúvidas? Não devias... " Já ver algo tão inexorável como as fases da lua que a empresa seja autorizada a poder mudar todas regras do jogo [...]" Vejamos: É de poder que estamos a falar. Se se trata de poder, está na sua natureza subtrair-se a qualquer tipo de controle -- excepto, claro está, do controle de um poder maior. "[...] à revelia de qualquer controle democrático (tu o sugeres dizendo que é fútil "estar contra") é admitires tu próprio uma deslocação de poderes que tem pouco a ver com liberdade de comércio e muito a ver com fim do controle democrático sobre uma actividades que supostamente abragem muito mais da vida humana do que apenas comércio." Mau. Grande confusão. Não digo que é fútil "estar contra" os abusos de poder. O que digo é que é fútil estar contra a globalização por haver abusos de poder. Mesmo que haja (e, inexoravelmente, haverão) abusos de poder com base na globalização. Os abusos de poder são inexoráveis, como é inexorável que as pessoas como nós se revoltem contra eles. No entanto a associação entre abusos de poder e globalização é terrivelmente enganadora, e promovê-la é um péssimo serviço. Os abusos de poder ocorrem sempre e é sempre necessário estar atento a eles. Pensar que eles se evitam é como acreditar que se consegue agarrar o ar dum balão: Quando se aperta dum lado, ele incha do outro. Isto nada tem a ver com a globalização. Quanto ao fim de controle democrático sobre as actividades que querias, julgo que os pintores de fantasmas ao serviço dessas ideias as deviam fundamentar, nomeadamente comparando o número de actividades económicas que hoje ocorrem sob controle democrático com o número (percentagem) das que ocorriam há dez, e há trinta, e há cem, e há 200 anos. Acho que a coisa dava um gráfico elucidativo, quanto mais não seja a avaliar pela quantidade de pessoas vivendo em regimes democráticos nestas ocasiões -- o qual não me consta que esteja a diminuir, quanto mais a desaparecer! " O transporte para a luz do dia pelos vistos não é tão ajudado indirectamente pela tal globalização. Pelo menos para a tua percepção dos acontecimentos." Peço desculpa, mas não vejo ponta de fundamento para esta afirmação. "Chegas ao ponto de insinuar que as questões envolvidas são estanques, mas justificas a estanquicidade com quê?" Seria uma barbaridade afirmar que questões desta natureza são estanques, mas seria outra barbaridade pior não as querer abordar sem ser tudo à molhada. No caso particular da globalização e dos abusos de poder, a estanquicidade é uma aproximação muito razoável. Em termos estatísticos, a indendência destes dois fenómenos verificar-se-ia analizando as distribuições dos acontecimentos e verificando se há correlações, ou qualquer coisa do tipo. Antes que me perguntes uma barbaridade do tipo de se eu tenho números, digo que não tenho! Mas alguém tem? "a) como os "fenómenos" (quaiquer que sejam os fenómenos, supostamente sociais, a que te referes) são ortogonais à liberalização do comércio (ou mais exactamente não a uma liberalização abstracta mas à "liberalização" efectiva)? " É um bocado complicado responder a uma pergunta com tantos "supostamente" e "abstracta", mas vou tentar: A liberalização efectiva vive no mundo real. A abstracta vive no reino da fantasia. A efectiva é pior (mais incompleta) que a abstracta, pois tem que combater inúmeros interesses instalados. Por exemplo, não deve ser nada fácil convencer os agricultores franceses de que é boa ideia deixarem de receber subsídios. Na vida real os passos têm que ser dados um de cada vez. O que vai acontecendo é que, à medida que interesses diversos pressionam no sentido certo, a liberalização real se aproxima mais e mais da efectiva. Isto porque esta liberalização tem muito a ver com relações entre Estados, e os Estados saltam logo quando os outros Estados levantam barreiras à liberalização. Isto simplesmente porque o comércio mundial está cada vez mais e mais interligado. " b) como as liberalizações de comércio e movimentos (as concretamente efectuadas) contribuiram para combater a pobreza? " Liberalizações de comércio significam que é possível especialização. Sem liberalização (e desculpa o exemplo desactualizado), comemos ananás azedo e caro, pois o nosso clima não produz ananás decente. Com liberalização, vendemos milho a quem não o produz e compramos ananás a quem o tem bom e barato. Tudo o que contribuir para isto é bom. Se conheces excepções, estou interessadíssimo em saber delas. A não ser que se trate de situações baseadas em acordos distorcidos, resultantes de abusos de poder. Desses já sei o que esperar, e eles constituem um fenómeno de natureza diferente, que ocorre quer haja quer não haja globalização. Novamente refiro o péssimo serviço que é misturar estas situações de abuso largamente independentes da globalização com a globalização. " E já agora, sabes concretamente quais foram as liberalizações de comércio e movimentos feitos até agora? Como aparentemente pretendes defendê-las como a melhor solução inventada pela humanidade, devo supor que consideras que a invenção, como a descreves, corresponde à prática?" Já agora clarifico, caso não o tenha feito antes, que aquilo que refiro como a maior invenção da Humanidade para combater a miséria é o comércio livre e não a globalização. A globalização, no que ela tem de redução ou queda de barreiras alfandegárias, e no que ela tem de redução de subsídios à produção que distorcem os preços, é uma força poderosa para melhorar a eficácia do comércio, ou seja, a eficácia da tal invenção, mas não é ela própria a invenção. Claro que, não sendo um profissional de Relações Internacionais, não sei quais são os decretos, acordos e negociações que decorreram e estão a decorrer. Se tu sabes, ilumina esta pobre alma ignorante. Até ver essa Luz resplandescente, considero que as notícias que acompanho há mais de vinte anos, juntamente com artigos de opinião e livros lidos e o simples contacto com a realidade, me permitem ter uma visão aceitável, à minha escala, do problema. Por exemplo, sabes explicar porque é que a existência de salários mínimos se reflecte em desemprego? Quando eu há meses quis explicar isso com 5 riscos num papel, em Aveiro, ninguém quis ouvir. Enfim, escolhi mal o timming. "E deves ter pontos de comparação com outras invenções da humanidade para combater a pobreza." Tenho eu e tem toda a gente que queira ver. Pega em qualquer sistema económico que não se baseie em comércio livre e vê o resultado. China, URSS, Coreia do Norte, Cuba. É só procurar no mapa. |
| | | | A indicação de que os abusos de poder são ortogonais à "globalização concreta" (e não ao "modelo teórico de globalização") parece-me muito discutivel. Aliás, a distinção entre globalização teórica e prática é muito interessante. Como qualquer modelo ideológico, a globalização teórica apresenta simplificações que nem sempre coincidem com a "praxis". Parece-me interessante que quem geralmente faz mais criticas a modelos ideológicos alternativos seja normalmente adepto de ignorar os problemas práticos da aplicação dos modelos teóricos que propõe - mas isso normalmente é o que acontece com os verdadeiros crentes (TM) de qualquer religião. Conforme afirmas, normalmente um poder só se submete a um poder maior. A questão é que normalmente nas sociedades democráticas pré-globalização esse poder maior era normalemente o estado (com todos os problemas que conhecemos, de acordo...). No entanto a criação de entidades supra-nacionais (favorecido pela globalização) que agem de forma mundial sem possibilidade de controlo pelo estado é uma das razões porque o mecanismo de controlo tradicional falha. Agora, podemos ter a opinião de que - esse controlo é desnecessário - as empresas funcionarão mais eficientemente sem esse controlo e como tal as vantagens teóricas e práticas da globalização serão mais facilmente alcançadas; ou
- esse controlo ocorre de qualquer forma através do inpacto nacional das escolhas dos consumidores locais - ou seja, os consumidores exercem controlo directo sobre as actividades empresariais através das suas escolhas.
As duas opiniões acima sofrem provavelmente do mesmo idealismo que de que se costuma acusar os opositores da globalização. Deve ser dito que as empresas não teem qualquer imperativo ideológico a favor do mercado livre, e assim, como todos sabemos, e tal como os restantes actores no mercado actuarão da forma que lhes parecer mais adequada aos seus fins. Isso significa que a tomada de acções que na prática diminuem a competição e o comércio livre não são apenas possibilidades teóricas mas frequentemente obrigações estatutárias das corporações (é só ler o que diz o código das sociedades comerciais). Por outro lado a esperança de que os consumidores conseguem individualmente tomar as decisões que levam ao repor desse controlo (ou pelo menos a limitação dos abusos mais evidentes) por via do mercado ainda não está provada. Nalguns casos algumas actuações de algumas empresas tem sido afectadas, concedo, mas para tal é necessário a existência de uma sociedade civil com um livre acesso à informação (nomeadamente sobre essas empresas) e com conhecimentos básicos adequados. Ora sinceramente, com o apertar do controlo sobre aquilo que é normalmente chamado de propriedade intelectual não me parece que o movimento neste sentido se tenha vindo a consolidar. Resta portanto um terceiro mecanismo de controlo, que é o que os estados grandes (geralmente aqueles que mais rápidamente se aperceberam da situação) tem vindo a adoptar, que é a criação de mecanismos reguladores supranacionais (não apenas coisas como a OMC/WTO e o GATT, mas também áreas de comércio livre com potencial controle politico, como a UE, o MERCOSUL e a NAFTA). Claro que estes tipos de organizações tem outros tipos de problemas, normalmente de representatividade.
JB |
| | | | "A indicação de que os abusos de poder são ortogonais à "globalização concreta" (e não ao "modelo teórico de globalização") parece-me muito discutivel." Talvez isso seja por não termos o mesmo conceito de poder. Eu direi, talvez de forma simplista, que entendo o poder como a capacidade para fazer o que se quiser, dentro de limites relacionados meramente com a quantidade de poder e com a sua relação com outros poderes que habitam no mesmo ambiente. Nesta descrição, o ambiente onde o poder é exercido é um mero palco que não interfere no facto de ele se exercer. Concretamente, para a situação que nos ocupa, é indiferente se o ambiente é de globalização ou não; o poder manifestar-se-á com a mesma intensidade em qualquer dos casos, e se for perverso se-lo-á na mesma. É daí que derivo a ortogonalidade entre poder e globalização. Não digo que o poder ignora a globalização, como não digo que um peixe ignora a água. O que digo é que o peixe nada na mesma, quer a água seja clara, quer seja turva. E nesta analogia simplista, a globalização fornece o que me parece ser uma água mais clara. Mais clara do que num sistema cheio de barreiras arbitrárias levantadas por países a seu bel-prazer, pois a natureza do poder será exactamente a de contornar as barreiras, e decerto isso não poderia ser feito às claras: exigiria secretismo e escamoteamento de factos. Aproveito assim a boleia para esboçar a razão porque me palpita que a globalização contribui indirectamente para que os abusos (os exercícios perversos de poder) sejam mais reduzidos: A não globalização fomenta uma cultura de contorno de barreiras. A globalização, ao remover as barreiras arbitrárias, fomenta uma cultura de práticas que não têm que "aprender a ser obscuras". O raciocínio não muda muito (se é que chega a mudar) no caso em que o poder é suficientemente forte para mudar o ambiente. Nesse caso, o que há a fazer é redefinir o que é "ambiente" para um poder dessa dimensão. Voltando à situação presente, se estamos a falar de um poder de magnitude tal que é capaz de manipular a seu bel-prazer o processo de globalização, então tanto faz o que dissermos, pois esse poder já tomou conta de tudo há muito tempo e apenas pode ser detido por um meteorito como o dos dinossauros, pela morte do Sol ou pela colisão entre a Via Láctea e a galáxia de Andrómeda. Não tenho a ideia maniqueista de que estamos todos sujeitos a um poder tão grande que é capaz de controlar arbitrariamente o processo de globalização. E como disse, caso eu esteja enganado esta conversa é irrelevante, pois um tal poder fará o que quiser, digamos nós o que dissermos. |
| | | | A posição que apresentas sofre de duas falácias importante: primeiro, básicamente afirma que dado que é impossivel impedir todos os abusos, não vale a pena impedir qualquer abuso. Isto é obviamente falso, porque senão não teriamos qualquer tipo de policia, segurança, etc. A questão não é conseguir impedir todos os abusos, é dificultá-los e tratá-los quando ocorrem. A segundo falácia é aquela que assume que os abusos cometidos por empresas de dimensões maiores são exactamente os possíveis de ser cometidos por n empresas de dimensão menor. Ora esta falácia o João César das Neves não cataloga, mas é o "sindroma de Golias" ao contrário - (sindroma de David?) que afirma que para qualquer acção a efectuar as empresas de maior dimensão não teem quaisquer vantagens sobre as mais pequenas. Claro que sabemos que no respeitante a um mercado livre, onde todas as empresas competem em igualdade de circunstâncias, a dimensão não é por si só factor determinante. Mas no respeitante a mercados reais, onde as condições não são de facto iguais para todos, e onde o proprio facto de exercer o poder distorce essas condições, não se pode ignorar o efeito dimensão. Finalmente, e em resposta à ultima afirmação, em nenhum lado se afirma (ou é necessário) que exista um poder coordenado tão grande capaz de forçar o processo de globalização em qualquer direcção. No entanto, existem sem duvidas muitos poderes não necessáriamente coordenados que tentam dirigir o processo para a direcção que lhes é mais conveniente. Cada um destes processos é conduzido para uma direção diferente, no entanto a resultante destas direcções todas não é um passeio aleatóreo, uma vez que as direcções não sendo coincidentes teem pontos em comum. Um estudo sobre a direcção resultante e se essa direcção é a pretendida pela maior parte das pessoas seria sem duvida interessante.
JB |
| | | | Eu não tenho grandes preocupações com a definição do termo em si, até porque diferentes grupos o usam com sentidos diferentes. Interessa-me mais descer abaixo do nome e saber o que defendem uns e atacam os outros, daí o interesse em saber o que cada um chama a "globalização". E mais do que se defende e ataca, qual a prática. Pessoalmente tenho notado que as críticas de bastantes pessoas (exceptuando as que ficam apenas por banalidades) que se diz "falarem contra a globalização" têm muito pouco a ver com considerações sobre o valor da soma da economia a esse nível abstracto ou com o condenar da liberdade de comerciar, e muito mais a ver com a denúncia de práticas concretas. Infelizmente o retrato que passa predominantemente nos media é o que te ocupaste a refutar. Refutaste o que está pintado num retrato, mas muito pouco do que na prática está a ser dito. Daí o sucesso de marketing do termo "globalização": se alguém diz algo de pormenorizado contra algo que se considera, predominantemente, fazer parte da "globalização", é óbvio e imediato apresentar a "denúncia" simplista "lá está mais um a falar contra a liberdade de comércio". Pena que o mundo seja bem mais complicado do que isso. |
| | | | Interessa-me mais descer abaixo do nome e saber o que defendem uns e atacam os outros [...]" " Pessoalmente tenho notado que as críticas de bastantes pessoas (exceptuando as que ficam apenas por banalidades) que se diz "falarem contra a globalização" têm muito pouco a ver com considerações sobre o valor da soma da economia a esse nível abstracto ou com o condenar da liberdade de comerciar, e muito mais a ver com a denúncia de práticas concretas." O facto concreto de o valor da soma do jogo "economia" ser positivo é importante. O facto concreto de ele não ser generalizadamente entendido como tal é importantíssimo e tem um impacto brutal nas opções políticas, tanto dos cidadãos como dos decisores. Estes factos estão na raiz de uma onda de desinformação (muitas vezes inocente) e da mobilização de inúmeras vontades que reclamam medidas contra a pobreza que, feitas as contas, pioram a situação. Por outro lado, tenho ideia que as "situações concretas" contra as quais dizes que há quem reclame são simplesmente resultado duma dinâmica de jogos de poder (de quem pode) que existe independentemente de haver comércio livre. A ser assim, essas situações concretas, apesar de importantes e condenáveis, são largamente irrelevantes numa discussão em que o tema é a palavra "globalização". Enfim, posso estar enganado, pois falei das "situações concretas" em... abstracto. Mas não estou enganado na questão concreta da percepção de que o jogo económico é de soma nula quando, de facto, é de soma positiva, e considero este um ponto absolutamente central para que a discussão possa ser minimamente inteligente, por isso insisto nele o mais enfaticamente possível. Mesmo que existam situações concretas perveras directamente relacionadas com o problema da globalização, discutí-las sem interiorizar bem que a economia é um jogo de soma positiva é como discutir os defeitos do pneu X numa corrida de Fórmula 1 antes de ter uma ideia clara da Lei da Inercia. Tal como não é possível uma discussão de mecância sem ter noção de como funciona a inércia, também não é possível uma discussão de economia sem ter noção de que ela é um jogo de soma positiva: Sem essas noções é calinada qu'até ferve, portanto, apesar de abstractas, eu considero-as centrais nas respectivas discussões. É que nem é raro que as críticas de pessoas que falam contra a globalização com base em práticas concretas, como bem referes, saltem para as suas conclusões ignorando crassamente que a economia é um jogo de soma positiva. O que me faz perguntar: Se essas pessoas partissem das premissas correctas, e perante as mesmas práticas concretas, ainda falariam contra a globalização? Como bem dizes, as coisas são mais complicadas... |
| | | | 1. Eu não menosprezei a questão da soma, apenas referi que as críticas principais não têm a ver com a questão de princípio da soma. O que está em causa não são tanto teorias económicas, mas uma discussão de factos que tu confundes com uma discussão de teorias. 2. Discutir física perdendo a referência experimental pode dar matemática interessante, mas em termos de física pode dar na prática calinada qu'até ferve. Discutir economia em abstracto sem olhar para a concretização prática dela e, pior, responder com economia em abstracto a quem está a falar de *práticas* concretas que extravasam o âmbito de, apenas, economia, é uma calinada tão grande ou pior. No teu caso, a raiar uma resposta sobre leis de Kepler a quem discute a geologia de Marte. Ambos estudámos física e eu certamente não estudei economia a fundo. Ainda bem que estás à vontade com a economia, embora o reconhecimento do valor dos resultados experimentais pareça ter morrido na transição. Apenas peço que não me fales de leis de Kepler se eu disser que há uns calhaus com um aspecto curioso ali naquele canto. 3. O problema é que se calhar as pessoas que criticam práticas concretas falam particularmente contra as práticas concretas e não contra as tuas contas de somar. Conheço ainda poucas das críticas e contra-críticas, mas o padrão observado aqui no Gildot é mais do que familiar, e conveniente a quem está interessado em defender as práticas: uns falam contra estas, outros, sem saber do que os primeiros falam, acusam-nos de eles criticarem algo completamente diferente, e mesmo mal definido. Ou então sou eu que ando a ler autores menos rascas, dos que não criticam contas de somar "porque sim"; outra alternativa ainda é tu limitares-te a seguir o relato da bola (figurativamente falando) na TV e conheceres apenas uma versão light. Mas chega de meta-conversa. Vamos a dados. |
| | | | "O problema é que se calhar as pessoas que criticam práticas concretas falam particularmente contra as práticas concretas e não contra as tuas contas de somar. Conheço ainda poucas das críticas e contra-críticas, mas o padrão observado aqui no Gildot é mais do que familiar, e conveniente a quem está interessado em defender as práticas: uns falam contra estas, outros, sem saber do que os primeiros falam, acusam-nos de eles criticarem algo completamente diferente, e mesmo mal definido." Nada tenho contra a crítica de práticas concretas. Frequentemente as práticas concretas são tão bárbaras que a sua crítica é um dever. Mas tenho tudo contra o aproveitemento oportunista, infundado e demagógico dessas críticas para saltar para a espinha da globalização, como se a globalização fosse responsável pelas tais práticas concretas, como se práticas igualmente pérfidas não se desenvolvessem na ausência de globalização e como se a globalização não trouxesse consigo um mar de outras práticas concretas boas. Por razões que não entendo, contesta-se a globalização quando há qualquer problema (alguma prática concreta maléfica) que pareça ter algo a ver (mesmo que numa observação mais de perto não tenha nenhuma relação próxima), ignorando tudo o resto. No que escrevi, quis frisar principalmente o facto de a economia ser um jogo de soma positiva. (Reconhecerás certamente que se não se trata duma mera teoria desenvolvida numa torre de marfim, mas dum facto experimental muito bem comprovado.) Quis frisar este facto por ele estar na origem da esmagadora maioria de maus juizos sobre como se podem abordar problemas económicos, e sobre o que é uma burrada de caixão à cova. |
| | | | Parece-me que existe aqui uma coisa que não está a ser tomada em atenção (é possivel que esteja, mas convem esclarecer para quem não estudou teoria dos jogos). Naquilo que se segue estou a apresentar jogos de 2 jogadores, mas pode ser facilmente extendido. É conveniente lembrar que um jogo de soma não zero - mesmo um jogo de soma positiva - é simplesmente um jogo em que: a) Existem resultados diferenciados para os diferentes jogadores, e em que os resultados de um jogador não são exactamente o oposto dos resultados do outro. (definição de jogo de soma não nula). b) A resultante (soma dos resultados obtidos) pelos jogadores é positiva (a SOMA ser positiva não quer dizer que ambos os jogadores tenham resultados positivos, ou que os resultados de um e outro sejam relacionados ou sequer que respeitem qualquer medida societal de "justiça"). A existência de um resultado positivo pode querer dizer que o "agregado para a sociedade" é positivo - se se tiver a certeza que o jogo reflecte adequadamente todos os benificios e prejuízos para a mesma. Mas de qualquer forma a existência / o jogar de um jogo de soma positiva não é necessáriamente a melhor opção para um jogador (pode acontecer que um jogador tenha como o melhor a atingir num determinado jogo um valor negativo). E isto não tem nada a ver com o valor total do jogo, que pode ser perfeitamente positivo, negativo ou nulo. Normalmente apresenta-se o comércio livre como um jogo de soma positiva (concordo que é, principalmente se medido em termos de medidas monetárias) mas isso não quer dizer que seja necessáriamente o melhor resultado para todos os interessados... Por outro lado, considerar o "agregado para a sociedade" como positivo ser justificação para a existência do jogo implica assumir: a) que o bem estar da sociedade como um todo é mais importante que o dos seus constituintes, b) que estamos a medir adequadamente o que é o "bem estar da sociedade" através do jogo, e poderia ainda acrescentar c) - que o resultado do jogo é unidimensional e não multicritério e como tal falar-se de "melhor" e "pior" em abstrato faz sentido.
JB |
| | | | Concordo com o que dizes: Lá por o jogo ser de soma positiva, isso não quer dizer que todos ganhem. No caso presente, hiper-simplifiquei a minha própria visão do problema para atacar um ponto específico subjacente a raciocínios muito vulgarizados. Lembrei-me de associar isso ao "teorema" de que em liberdade todos ganham nos negócios que se fazem (o que talvez contribua para acreditar que, no caso específico do jogo económico, todos ganham). Em jeito de "confirmação experimental" da "teoria", apresento a evolução histórica, sempre crescente, da riqueza das pessoas (de todas elas), que parece mostrar que de facto todos ganham no jogo económico. Todas estas associações são da minha responsabilidade, portanto têm todas as probabilidades de estar erradas. Mas, mesmo sem ter aqui as referências bibliográficas, julgo não mentir se disser que há vários gigantes, aos ombros dos quais não tenho categoria para subir, que dizem também isto. O ponto onde a minha hiper-simplificação pessoal se começa a manifestar é na dúvida de se é bom para todos um jogo em que, apesar dos mais pobres ganharem, os mais ricos ganham muito mais. Repara que me furto a dizer que o sistema económico é assim, pois não sei. A minha intuição diz-me que as desigualdades não estão a aumentar (baseio-me em comparações intuitivas com situações da Idade Média), e diz-me ainda que mesmo que aumentem isso não se está a revelar maléfico, porque: - Num exemplo do que de mais básico tem a ver com a subsistência, os cuidados de saude a que hoje os mais pobres têm acesso são muito melhores do que os acessíveis na Idade Média.
- O efeito maligno que imagino de um aumento de desigualdades é a escravização dos mais fracos; no entanto, de novo a análise da História (aqui tomada como "observação experimental") mostra um processo de aumento progressivo da liberdade dos povos, e não o oposto. Concluo portanto que o efeito nefasto que receio (escrevização dos fracos) não se está a verificar. Bem pelo contrário.
Acresce que li há cerca de um ano um texto (de que perdi o rasto) dum professor de economia não sei de que universidade americana que referia observar-se uma correlação positiva entre desenvolvimento e desigualdade. Ou seja (e este era exactamente o contexto do texto), lutar contra a desigualdade é, pela natureza do sistema económico, lutar contra o desenvolvimento. Enfim, não dês a esta afirmação mais importância do que a um boato, pois não me recordo da fonte. |
| | | | Pelo que eu tenho lido é controverso se a igualdade está a aumentar ou a diminuir, por falta de dados e porque o assunto é um campo de batalha ideológico. Mas não parece haver muitas dúvidas de que a desigualdade mundial aumentou desde a revolução industrial até à segunda guerra mundial. Basta que compares a riqueza de um europeu médio e de um africano médio em duas épocas diferentes (1800 e 1945). É possível que a desigualdade esteja agora a diminuir, mas isso é controverso.
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| | | | Portugal é um estado centralista. 50% da economia é controlada pelo estado. As grandes empresas dependem ou de subsídios ou de contractos com o estado. Neste cenário, qual é a opção mais racional para uma empresa: competir no mercado melhorando os seus serviços ou tentar influenciar as decisões do governo a seu favor? A resposta é: tentar influenciar as decisões do governo. Entre outras coisas, estas empresas fazem pressão para que sejam instituídas medidas proteccionistas e para que se façam obras públicas faraónicas. As empresas competem pela influência política e não para satisfazer o público. Há um claro incentivo à currupção. A propósito, onde é que os partidos arranjam dinheiro para tantos cartazes? E qual é o problema das obras públicas faraónicas? Todas a gente gosta da Expo!! O problema é que toda a gente está disposta a fazer a expo com o dinheiro dos outros, mas a Expo nunca teria sido feita com o dinheiro de um peditório nacional. As obras públicas faraónicas são na realidade uma forma de transferir dinheiro das pessoas através dos impostos para empreendimentos que essas pessoas não valorizam. Mas qual é o problema do proteccionismo? Não devemos proteger o que é português? O proteccionismo hoje em dia é feito de duas formas: através de subsídios às empresas nacionais e através de privatizações selectivas. Os subsídios não são racionais porque são transferências de dinheiro dos sectores mais produtivos da economia para os menos produtivos. As privatizações selectivas também não porque favorecem um grupo restrito de capitalistas (não necessariamente patriotas) e evitam a transferência de capitais e de Know how para Portugal. Mas as pessoas dizem que tudo seria óptimo se o governo tomasse as decisões certas. Se tivéssemos bons governantes. Mas esse é um problema das entidades centralizadas. Quando colocas todos os ovos no mesmo cesto, pode correr muito bem, mas se correr mal, corre mesmo muito mal. As entidades centralizadas têm ainda outro problema: a informação flui mal de baixo para cima e de cima para baixo, mas não há transferência horizontal de informação. Num mercado livre a informação flui em todas as direcções através dos preços. E qual é a solução para isto? Lutar para reduzir o peso do governo na sociedade em vez de estar sempre a propor mais e mais competências para o estado. Tentar resolver os problemas dando mais poder ao estado só aumenta o prémio de quem compete através da influência política.
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| | | | | 50% da economia é controlada pelo estado. As grandes empresas dependem ou de subsídios ou de contratos com o estado. O que também acho péssimo. Neste cenário, qual é a opção mais racional para uma empresa: competir no mercado melhorando os seus serviços ou tentar influenciar as decisões do governo a seu favor? A pergunta é pertinente, mas não só neste cenário. A resposta é: tentar influenciar as decisões do governo. Entre outras coisas, estas empresas fazem pressão para que sejam instituídas medidas proteccionistas e para que se façam obras públicas faraónicas. As empresas competem pela influência política e não para satisfazer o público. Há um claro incentivo à currupção. Neste cenário poderá ser a resposta mais óbvia, já que o estado é o cliente. Como em qualquer negócio, o sucesso pode ser tentado por duas vias: ou se tem objectivamente algo melhor para vender ou se consegue influenciar o cliente por outra forma qualquer (desde a banal publicidade até à corrupção, que não acontece só quando o cliente é o estado). Quando há um cliente grande e gordo que domina a paisagem é natural que ele seja escolhido como o alvo e que a técnica preferida seja a influência directa, eventualmente a corrupção: o alvo está bem localizado, e a outra via (qualidade do produto) diminui em importância quando o cliente paga, com dinheiro que não é exactamente o dele, coisas de que não é (supostamente) o consumidor final. E, dado o volume do negócio, a corrupção até pode ser a via mais económica (e portanto, tecnicamente sensata) de um ponto de vista puramente empresarial. Pela tua mensagem depreendo que partilhas comigo um ponto de vista não-puramente-empresarial (o lado empresarial chamar-lhe-ia no mínimo o "ponto de vista de consumidor", para não dizer muito pior, mas prefiro a palavra "cidadão", enquanto ela durar) segundo o qual o comportamento "decente" das empresas na sociedade é a competir exclusivamente através dos seus produtos, no mercado, e não por influência política e corrupção. Tomei nota, já que considero esta uma questão chave. Convém de qualquer forma não esquecer que o poder estatal não se exerce apenas no seu papel como maior ou menor cliente directo. Exerce-se também na definição das regras do jogo. E se em sociedades com menor peso económico do estado a resposta à pergunta inicial pode não ser tão óbvia como para Portugal, isso não quer dizer que nessas sociedades a competição por influência política não faça parte também da estratégia normal das grandes empresas. Não estamos a falar de desporto, já que a métrica do desempenho empresarial é o lucro conseguido e não o grau de cumprimento de regras que perante essa métrica são apenas factores de condicionamento externo. Estamos portanto perante um "jogo" em que, do ponto de vista dos jogadores, alterar as regras faz todo o sentido como parte das jogadas. Não falei em "grandes empresas" como parte de uma visão demonizante das empresas grandes, mas porque a maior dimensão torna simplesmente mais fácil o exercício daquela influência. E qual é o problema das obras públicas faraónicas? Todas a gente gosta da Expo!! O problema é que toda a gente está disposta a fazer a expo com o dinheiro dos outros, mas a Expo nunca teria sido feita com o dinheiro de um peditório nacional. As obras públicas faraónicas são na realidade uma forma de transferir dinheiro das pessoas através dos impostos para empreendimentos que essas pessoas não valorizam. Podemos achar alguma graça à coisa, ir para lá passear, mas a informação, como disseste, flui mal: compram-nos "pão e circo" (mais circo, provavelmente) com o nosso próprio dinheiro, mas de uma forma que escamoteia que o dinheiro é o nosso. E todos ficam contentes a ver o circo, eles porque ficam com "prestígio" a escorrer pelas paredes pagando-o com o dinheiro alheio, nós porque não fizemos as compras e mal reparamos quanto nos custa cada pedaço da parede. Por isso talvez "faraónicas" não seja o melhor adjectivo para as obras. Pelo menos nas faraónicas o pessoal tinha uma percepção mais clara ("sentia na pele") de como a coisa lhe tinha custado. "Toda a gente gosta da Expo" parece à primeira vista quase óbvio, ou pelo menos há quem, entre os compradores directos (estado) e os fornecedores, não se canse de o propagandear, mas a verdade é que também não fomos consultados, directamente, sobre a decisão de fazer ou não a Expo e afins. Qualquer coisa como: "vamos gastar X para fazer a Expo, a Expo é isto e aquilo e mais aquilo, e tipicamemte de cada família portuguesa vão vir N mil escudos para financiar a coisa. Preto no branco. Mas não, quando se trata dessas coisas ninguém fala em referendos. Noutros tempos mais faraónicos podia dizer-se que era para enterrar o chefe, glorificar as divindades ou, se tudo o resto falhasse, dizer "porque sim e se tiveres algum problema com isso vais sentir umas algias". A nossa sociedade, mais civilizada, está-se nas tintas para se o chefe acaba por servir de comida para tubarões, preocupa-se pouco com questões divinas (e tudo o que estiver para além das próximas férias de verão) e portanto precisa de novas técnicas de persuasão. A técnica corrente, que já deu resultado com a Expo e faz especial furor nas últimas semanas, é a do "prestígio nacional" (versão pós-74 do antigo "desígnio nacional"?) pelo lado positivo e da "vergonha nacional" pelo lado da exploração de medos. A partir do momento em que se aplica a etiqueta do "prestígio-barra-vergonha nacional", não interessa a quê, a coisa fica acima das necessidades da população desde o curto prazo até daqui a 100 anos, acima da ideologia política (ou o que resta dela), das considerações económicas, da legalidade, e, com sorte, das leis físicas. Mas qual é o problema do proteccionismo? Não devemos proteger o que é português? O proteccionismo hoje em dia é feito de duas formas: através de subsídios às empresas nacionais e através de privatizações selectivas. Os subsídios não são racionais porque são transferências de dinheiro dos sectores mais produtivos da economia para os menos produtivos. Em geral também não gosto de subsídios a empresas. Talvez os compreenda em casos muitíssimo particulares, para proteger algo muito específico de alta qualidade (estou a pensar por exemplo em alguns produtos tradicionais) ou importância estratégica, mas apenas temporariamente e não como estratégia de longo prazo ou principal. Dar subsídios de forma razoável tem sempre a trabalheira da verificação do seu bom uso, que pode não ser nada trivial. E quando parte do dinheiro que entra são subsídios, parte da estratégia de maximização do lucro volta-se, naturalmente, não para aquilo que se vende no mercado "normal" mas na captação de mais subsídios. Cria-se toda uma especialização na indústria de candidaturas, papelada milagrosa que o estado recebe e em troca da qual fornece dinheiro. Quanto maior for a empresa, de mais recursos disporá para atribuir a essa tarefa. Eu, numa pico-empresa minúscula, se me metesse a procurar subsídios talvez pouco mais conseguisse fazer durante uns tempos; ou então pagava a outras empresas que se especializaram no fabrico da papelada. Em compensação os peixes maiores a nadar ao lado podem continuar a vender serviço E a chegar mais rapidamente e mais convincentemente aos subsídios (frequentemente em ramos de actividade que menos precisariam deles). Nem sempre a coisa se reduz, portanto, a transferir dinheiro de sectores mais produtivos para os menos produtivos. Também transfere de quem talvez mais precise (independentemente da produtividade) para quem (também independentemente da produtividade) tem já recursos para tornar a caça ao subsídio em apenas mais uma forma de subir o lucro. Robin-Hood às avessas. Mas as pessoas dizem que tudo seria óptimo se o governo tomasse as decisões certas. Se tivéssemos bons governantes. Mas esse é um problema das entidades centralizadas. Quando colocas todos os ovos no mesmo cesto, pode correr muito bem, mas se correr mal, corre mesmo muito mal. O problema é que, paradoxalmente, a reacção a isso parece em alguns casos acabar por ser (mesmo que não "vendida" assim) colocar ainda mais ovos, ou pelo menos ovos escolhidos pela sua preciosidade, em menos cestos. Planetariamente. As entidades centralizadas têm ainda outro problema: a informação flui mal de baixo para cima e de cima para baixo, mas não há transferência horizontal de informação. Num mercado livre a informação flui em todas as direcções através dos preços. Resta saber como está a transferência de informação em alguns dos mercados que são por vezes apontados como exemplo do ideal teórico de mercado livre. E saber se toda a informação que como sociedade precisamos que flua é codificável em preços. E qual é a solução para isto? Lutar para reduzir o peso do governo na sociedade em vez de estar sempre a propor mais e mais competências para o estado. Tentar resolver os problemas dando mais poder ao estado só aumenta o prémio de quem compete através da influência política. Entrando pela questão da "Globalização" (em alguns dos seus sentidos), será interessante saber se a prática que é rotulada institucionalmente com esse termo corresponde na prática a reduzir o peso dos governos na sociedade (sociedade entendida não apenas como o conjunto das empresas) e se a obtenção de prémios baseada na influência política está a diminuir "globalmente". Idem para o proteccionismo. |
| | | | Pela tua mensagem depreendo que partilhas comigo um ponto de vista não-puramente-empresarial (o lado empresarial chamar-lhe-ia no mínimo o "ponto de vista de consumidor", para não dizer muito pior, mas prefiro a palavra "cidadão", enquanto ela durar) segundo o qual o comportamento "decente" das empresas na sociedade é a competir exclusivamente através dos seus produtos, no mercado, e não por influência política e corrupção. Tomei nota, já que considero esta uma questão chave. Repara que essa é uma questão pessoal. Se eu fosse empresário teria essa posição ética. Mas não podemos esperar que os outros façam o mesmo porque a posição ética pode não ser a " estratégia evolucionariamente estável". Se influenciar o estado for a decisão economicamente racional, os éticos vão à falência e os não éticos controlam a economia. Por isso temos que arranjar outra solução para o problema. Uma que não dependa da bondade humana, que pode faltar, e que torne o estado menos vulnerável à influencia de lobies.
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| | | | Eu não disse o contrário: sem sequer presumir saber qual seria o sistema político "ideal" tendo em conta a realidade humana (se eu tivesse uma resposta talvez me tivesse antes dedicado à política), também acho que qualquer solução deve ter em conta as imperfeições humanas e não se basear numa expectativa de integridade absoluta quer dos governantes quer dos governados. De catástrofes associadas ao presumir da perfeição já há exemplos que bastem. Chamei a atenção para o que considero o comportamento "decente" no mercado para sublinhar o que eu gostaria que as regras do jogo tentassem assegurar (sem expectativas exageradas de sucesso, tendo em conta a realidade dos jogadores), e que parecia ser uma posição comum. Dei destaque a isso porque: 1) quando algumas instituições económicas falam de "globalização", a anunciam como estratégia para conseguir ou estágio em que se conseguiu (o termo é usado de forma muito flexível) algo perto desse ideal; 2) quando se analisa a prática de algumas das mesmas instituições se nota que ela é precisamente oposta ao ideal que afirmam promover: facilitar poder económico à custa da influência nos estados, criação de barreiras à concorrência, eliminação de barreiras à formação de monopólios, restrição de liberdades pessoais bem além da esfera puramente do mercado, e por aí fora. Ao ponto de, por comparação, a concorrência empresarial de origem nacional por influências/corrupção no governo português (pelo menos o pouco de que se desconfia, já que de dados objectivos se fala de menos) parecer "soft". Tentarei dar alguns exemplos do que tenho visto sobre isso; pena que o tempo seja tão pouco para catar a informação que tenho dispersa. |
| | | | Infelizemente no estado em que está a economia/industria em .pt a globalização só pode ser (e é - salvo raríssimas excepções) feita de fora para dentro. O verdadeiro problema, a meu ver, é a falta de produtividade. Tecnologias obsoletas, mão-de-obra obsoleta, educação ridícula, péssima gestão dos gestores e do Governo (alô Min. Finanças! :) ). Enquanto o Português não tiver educação/formação melhores a nossa industria limita-se a mão de obra barata e nada de técnica. Mas até nisso perdemos com Marrocos e Ex-países do Bloco de Leste (Hungria por exemplo). A culpa? É do espirito de 'desenrascanço' e do lixar o vizinho. Enquanto não cultivarmos o espirito da 'excelência', associativismo e cooperativas (olá Min Agricultura e agricultores cabeça-dura) e formos exigentes com nós próprios nada mudara, continuará de mal a pior... Senão acreditam vão a um hiper e vejam o que os 'nuestros hermanos' conseguem fazer em .pt - é a chamada 'globalização' ;)
"Big brother is watching you, and little brother is too. When big brother goes to sleep, little brother goes through his stuff." |
| | | | Leitão: não percebi bem afinal como se concretizaria a tua proposta "globalizante" para Portugal, e isso seria o mais interessante [até porque se calhar com a proposta concreta estou de acordo :-)]. Imagina que és mesmo ministro e que começas a ter de tomar decisões, passada a fase pré-eleitoral em que apenas se escreve grandiosas declarações de intenções. O que sugeres? Produzirmos mais a pensar em vender no estrangeiro? Excelente. O que nos impede de fazer isso hoje? A culpa é de quem não se põe, no sector privado, a fazer isso espontaneamente, ou a culpa é, mais uma vez, do estado? O que nos estorva? Sobretudo barreiras no estrangeiro ou barreiras internas? Impedimentos legais nacionais? Falta de incentivos internos? Na forma de subsídios ou na forma de reduções selectivas de impostos? Ou estes seriam ambos medidas de tipo "proteccionista"? E como faziam FR, UK e DE antes da moda da globalização? Safavam-se mal? Ou já tinham tido a ideia de vender para o estrangeiro? O que mudou na prática nesses países desde então em termos estratégicos? Perder o medo de entrar "globalmente" de outra forma abrindo as válvulas no sentido de fora para dentro? Por exemplo dando a gente de países de Leste, hoje a trabalhar na construção civil e a lavar roupa, oportunidade para fazer cá outros trabalhos que têm competência para fazer? Pondo em prática o tal livre trânsito de pessoas e abrindo portas para a entrada livre a partir do norte de áfrica? E a Europa, deixa? Ou, por outro lado, deixando empresas estrangeiras instalarem-se ponto final? Ou deixando-as instalarem-se passando-lhes primeiro uns cheques ou condições fiscais especiais? E se dermos qualquer destas, isso será comércio livre ou... subsídio a distorcer a competição? Vale a pena distorcê-la temporariamente para atrair dinheiro e competência estrangeiras? Mas isso será genuinamente comércio livre sem o estado a meter o nariz? Ou meter o nariz faz parte do jogo e deixa legitimamente os outros jogadores locais irritados se no mesmo âmbito tiverem condições diferentes para competir? |
| | | | Para (re)começar, importa dizer que não me sinto de forma alguma preparado para discutir seriamente tanto teorias económicas em geral como soluções politico-económicas para Portugal em particular. Quando muito posso julgar ter alguma intuição sobre o que pode diminuir ou exacerbar alguns problemas, em parte coicidente, na "teoria", com outras visões aqui apresentadas. Nunca estudei formalmente economia, nem sequer como hobby, e quando muito tenho alguma curiosidade pelo que se vai passando efectivamente pelo mundo. Assim os exemplos que vou tentando apontar (poucos porque o tempo é pouco e a minha micro-economia pessoal já está suficientemente mal gerida) não pretendem ser "demonstrações" num sentido científico. Outros que aqui vão escrevendo parecem muito mais à vontade com o tema, e a forma como apresentam alguns pontos como auto-evidentes deve ser sinal, espero, de uma base sólida nestes terrenos e não de superficialidade de percepção, o que será bom para nos ajudar a avaliar o interesse ou autencidade dos exemplos. |
| | | | Sebrosa dixit: Nada tenho contra a crítica de práticas concretas. Frequentemente as práticas concretas são tão bárbaras que a sua crítica é um dever. Mas tenho tudo contra o aproveitemento oportunista, infundado e demagógico dessas críticas para saltar para a espinha da globalização, como se a globalização fosse responsável pelas tais práticas concretas, como se práticas igualmente pérfidas não se desenvolvessem na ausência de globalização e como se a globalização não trouxesse consigo um mar de outras práticas concretas boas. ... estando talvez a pressupor que há uma "crítica típica" anti-globalização que consiste em: - pegar numa prática obviamente bárbara;
- criticar essa prática;
- colá-la a cuspo ao nome "globalização";
- extrapolar o juízo de valor para o "todo" partindo do que o crítico supõe ser uma parte desse todo.
Como técnica lógica quase mereceria o nome de "demonstração por globalização". E eu também acharia uma laracha. Menos laracha temos quando o que se critica é descrito expressamente como parte integrante da globalização não pelo crítico mas pela entidade responsável pela medida ou por quem a apoia. Mesmo nesse caso o crítico mais responsável tem o cuidado de não demolir imeditamente o edifício só porque viu uma janela torta. Embora a reacção padronizada de quem vê criticar a "janela" pareça tornar-se "olha mais um a criticar a globalização". Começando por um pequeno exemplo talvez consensual de "globalização", nas questões mais próximas deste fórum, o acordo GATT no que toca à "propriedade intelectual". Para não ser eu a introduzir a palavra "globalização" (mesmo que ela não seja propriamente desprezada pela Organização Mundial do Comércio, por exemplo), vou recorrer ao orgão panfletário de extrema-esquerda chamado "Encyclopædia Britannica": Third, an important legislative text was included, setting basic principles and rules for intellectual property rights. These rules went farther, albeit less deep, than the great world conventions on patents, trademarks, and copyright administered by the World Intellectual Property Organization and contained controversial provisions that had not been agreed to at those specialized levels. Also, because they were part of the GATT package, they would be binding on many less developed countries that were not party to the great conventions. This, then, was the fourth aspect of the agreement; it contained legislation on substantive private law, which formed part of the domestic legal system of nearly every state in the world. It marked, in a particularly acute manner, the increasing globalization of private law. Again, the legal and constitutional implications had not been examined, in particular the practical impossibility of amending or repealing the rules once adopted. E quem moldou esta legislação, de impacto, na prática, planetário? O chairman da Pfizer talvez ajude a perceber. O resto da história pode por exemplo ser visto aqui. Não exactamente no parlamento ou nos jornais. Claro que a palavra só por si faz todo o sentido como descrição: fala-se de dar alcance global a uma lei. O problema não é a palavra, mas a lei. A propósito do GATT e da globalização, achei curioso encontrar este texto. Dir-se-ia restos ou um regresso não autorizado do conteúdo anterior de www.gatt.org, quando o domínio estava nas mão de críticos da Organização Mundial do Comércio... :-) |
| | | | | Não posso comentar as situações que apresentas sem as ler, e infelizmente agora não posso lê-las :^( mas felizmente elas ficam aqui para serem lidas depois. Escrevo esta resposta apenas para clarificar um detalhe (porventura o menos importante, mas em todo caso o mais fácil): Eu não pressuponho o esquema de crítica anti-globalização que descreves, mas um diferente, que consiste em 1) prestar especial atenção aos nossos gurus favoritos (todos temos gurus, e é aqui que entra a vertende ideológica da discussão), 2) formar opinião com base num cadinho de influências onde as opiniões dos nossos gurus favoritos têm natural preponderância, 3) abordar a informação subsequentemente recebida em função dessa opinião a priori. Este processo deve ser bastante comum. A parte que me interessa é a terceira, pois desejo possuir (e desejo que todos possuam) a maior quantidade possível de munição para uma leitura crítica da informação recebida. Por me parecer que há dois ou três pontos-chave simples que habitualmente faltam às pessoas, tentei fornecer alguma da munição que uso no meu arsenal pessoal, esperando evidentemente que ela não rebente nas mãos de quem a recebe. A munição que tento passar adiante é 1) a ideia de que a economia livre é um jogo de soma positiva (quanto mais livre, mais positiva), e 2) a ideia de que é da natureza do poder fugir a controlos, havendo portanto abusos de poder em qualquer sistema que se conceba. Estes dois elementos somam-se para formar o seguinte pano de fundo: Não devemos combater as coisas boas que a libertação do sistema económico trás por receio das coisas más que os abusos de poder causam, pois os abusos existem seja como fôr. Peço desculpa por não poder analisar e apresentar a minha crítica ao resto desta e doutra mensagem (que afinal era o mais importante, mas que dava trabalho para um tempo que neste momento não tenho). |
| | | | Lembrei-me deste texto: Economia barata. É pouco. E é pobre para quem não tenha acompanhado mais textos sobre os assuntos referidos lá. Mas é um apanhado sucinto das (segundo o autor) barbaridades mais comuns quando se fala, se critica e (pior!) se intervém em Economia. Mais uma vez peço desculpa por não ter mais para mostrar agora. |
| | | | Li o texto do chairman da Pfizer, http://www.pfizer.c om/pfizerinc/policy/intellectualpropfrm.html. Não vejo razão para escândalo no seguinte parágrafo (julgo ser o que consideras revelador de perfídia): "In 1983, Pfizer joined with other corporations such as Merck, Johnson & Johnson, Bristol-Myers, IBM, Hewlett Packard, General Motors, General Electric, Rockwell International, Du Pont, Monsanto, and Warner Communications to form the Intellectual Property Committee to advocate intellectual property protection. The committee helped convince U.S. officials that we should take a tough stance on intellectual property issues, and that led to trade-related intellectual property rights being included on the GATT agenda when negotiations began in Punta del Este, Uruguay, in 1986." E daí? Não faz sentido que um acordo como o GATT inclua o item "propriedade intelectual"? A não ser, latvez, que consideres que a única coisa decente a fazer à questão da propriedade intelectual é destruir toda a legislação que a formaliza. Eu não tenho essa opinião, considero a propriedade intelectual importante e separo a questão de ela ser importante em abstracto da de ela ser mal implementada em *algumas* situações pontuais concretas, mas aceito que o tema é discutível e estou disposto a discutí-lo. O (alegado) "resto da história" (http://www.antipope.org /charlie/linux/shopper/166.dmca.html) parece-me muito mais uma micro-história no contexto da propriedade intelectual (provavelmente um caso de abuso de poder), e muito menos um "resto" de história. Entendo que a história em questão é um bocado maior que este "resto". Mas tenho que ler o texto, pois só o li na diagonal. Pode ser que fale de mais questões do que as que vi (essencialmente, vi o DMCA). Li o texto que achaste curioso encontrar: http://www.gatt.org/globalization1.html . Encontrei ali tanto detrito intelectual que a resposta longa implicaria um comentário parágrafo a parágrafo (e frequentemente frase a frase) bastante maior que o texto original. Não tenho tempo agora nem imagino quando o tenha. O comentário curto são duas palavras: Valha-me Deus... |
| | | | Perguntar quais são as ideias por trás da globalização não faz sentido. A globalização é um efeito, não uma ideologia... A ideologia é o comécio livre, A globalização é um efeito da queda das barreiras artificiais ao livre comércio e da tecnologia de comunicações. A definição do ajc de "Globalização" não tem, segundo ele, uma ideologia por trás. Olhando para o termo como uma pura descrição de um fenómeno, é dificil contrariar isso. Seria parecido com dizer que "dissolução em água" resume uma ideologia. Mesmo quando se explicita o que se globaliza, é apenas descrição. Até aqui tudo óbvio. Mas admitamos que é "o resutado da queda de barreiras". Pode surgir então a vontade de perguntar porque é que as barreiras caíram. Como estamos a falar de actividade humana, não é desprovido de sentido discutir se, por exemplo, o evento foi um fenómeno colectivo espontâneo ou teve lugar com justificação "científica" ou correspondeu a vontades dominantes ou foi guiado por uma ideologia, ou pelo seu resultado inspirou uma ideologia. O assunto não é de pouca importância, porque na prática estão em causa leis, não apenas leis nacionais mas acordos mundiais. O documento do Fundo Monetário Internacional citado pelo Leitão [IFM: Globalization, §II] procura dar uma definicão do fenómeno do ponto de vista económico: Economic "globalization" is a historical process, the result of human innovation and technological progress. It refers to the increasing integration of economies around the world, particularly through trade and financial flows. The term sometimes also refers to the movement of people (labor) and knowledge (technology) across international borders. There are also broader cultural, political and environmental dimensions of globalization that are not covered here. O título do artigo é "Globalization: Threat or Opportunity?", portanto ao olhar para ele de boa fé espera-se que ele se proponha no mínimo transmitir uma ideologia ou dar um conjunto de opiniões e no máximo fazer uma estimativa para o futuro baseada em dados objectivos. Por uma ou outra via, a conclusão final começa por As globalization has progressed, living conditions (particularly when measured by broader indicators of well being) have improved significantly in virtually all countries. However, the strongest gains have been made by the advanced countries and only some of the developing countries. Outros são menos optimistas sobre a evolução económica e os efeitos no nível de vida como resultados do processo. E nem sempre, como tanto insinua o blah mediático, por puras questões teóricas; o interessante será confrontar a documentação apresentada por ambos os lados. Para contraste com uma perspectiva menos optimista (mesmo que muito resumida) pode ver-se, por exemplo, "The Threat of Globalization", de Edward Herman. Globalization is both an active process of corporate expansion across borders and a structure of cross-border facilities and economic linkages that has been steadily growing and changing as the process gathers steam. Like its conceptual partner, "free trade," globalization is also an ideology, whose function is to reduce any resistance to the process by making it seem both highly beneficent and unstoppable. [..] Like free trade, globalization has an aura of virtue. Just as "freedom" must be good, so globalization hints at internationalism and solidarity between countries, as opposed to nationalism and protectionism, which have negative connotations. The possibility that cross-border trade and investment might be economically damaging to the weaker party, or that they might erode democratic controls in both the stronger and weaker countries, is excluded from consideration by mainstream economists and pundits. It is also unthinkable in the mainstream that the contest between free trade and globalization, on the one hand, and "protectionism" on the other, might be reworded as a struggle between "protection"--of transnational corporate (TNC) rights--versus the "freedom" of democratic governments to regulate in the interests of domestic non-corporate constituencies. Mas medir os efeitos na economia é crucial para averiguar da relavância desta acusação. Herman cita algumas medidas, e seria interessante saber quem afinal tem razão. Em particular analisando as lições da história. Segundo Herman, The claim of its proponents that free trade is the route to economic growth is also confuted by longer historic experience: no country, past or present, has taken off into sustained economic growth and moved from economic backwardness to modernity without large-scale government protection and subsidization of infant industries and other modes of insulation from domination by powerful outsiders. This includes Great Britain, the United States, Japan, Germany, South Korea and Taiwan, all highly protectionist in the earlier takeoff phases of their growth process. The governments and institutions bargaining on behalf of the TNCs today, through the IMF, World Bank, WTO and NAFTA, have been able to remove these modes of protection from less developed countries. This threatens them with extensive takeovers from abroad, thoroughgoing integration into foreign economic systems as "branch plant economies," preservation in a state of dependence and underdevelopment, and most particularly, an inability to protect their majorities from the ravages of neoliberal top-down development priorities. Curiosamente, lendo o documento do FMI [§3] pode parecer que o proteccionismo praticamente acabou em 1950, depois de ter sido um "major factor in the devastation of this period, when per capita income growth fell to less than 1 percent during 1913-1950".. Será que a única interrupção para proteccionismo foi o caso dos tomates de 1996? Nessa altura a Consumer Alert acabou por relembrar a "lição" ao presidente Clinton: "Consumers benefit from free trade because it results in lower prices and more choices of products. [...] Mexican growers should not be punished simply for responding to consumer demand in a free market. That's what free enterprise is all about. ". Ou há mais do que apenas tomates? O artigo de Chomsky The Passion for Free Markets: Exporting American values through the new World Trade Organization conta uma história pouco florida sobre a forma como um conceito peculiar de "mercado livre" tem vindo a ser "exportado". Esquecendo por momentos a complexidade da prática real e pensando na versão simplificada de mercado livre do ajc, a minha intuição sugere-me, também num raciocínio simples, que ela seria uma das vias potencialmente mais benéficas para a humanidade. Mas como me sinto ignorante em economia prefiro ter a cautela de não emitir essa "conclusão" como se fosse algo fundamentado. Aprendi noutros domínios como as intuições aparentemente mais fortes podem levar às conclusões mais falaciosas, e por isso prefiro chamar-lhe uma das minhas "ideologias" de estimação; nem sequer é grande ideologia porque não me dei ao trabalho de lhe dar alguma organização consistente. Ou sequer de pensar muito sobre ela. Mas uma das vantagens de vivermos num mundo tão integrado é poder beneficiar dos resultados produzidos por imensas cabeças que podem pensar naquilo que não temos competência ou pachorra para pensar. Com sorte alguém fez modelos teóricos, confrontou-os com a experiência, validou-os ou refutou-os, penso eu para o meu teclado com um resto da mentalidade que me injectaram em Física mas (pela mesma razão) esperando horrores de complexidade a dificultar a análise do sistema. Vejamos então uma perspectiva aparentemente equilibrada do artigo do FMI [§VIII], relacionada com os mercados de capitais: The succession of crises in the 1990s -- Mexico, Thailand, Indonesia, Korea, Russia, and Brazil -- suggested to some that financial crises are a direct and inevitable result of globalization. Indeed one question that arises in both advanced and emerging market economies is whether globalization makes economic management more difficult. Clearly the crises would not have developed as they did without exposure to global capital markets. But nor could these countries have achieved their impressive growth records without those financial flows. Digo "aparentemente" porque pouco parece clarificar-se da natureza do crescimento e porque o ("científico") argumento "clearly" parece ser o único usado para "justificar" que sem a liberalização do mercado de capitais ("those flows") o crescimento não teria sido "impressionante". Mas enfim, a coisa é um documento de divulgação. Aquilo deve ser "clear" para os autores, que o viram demonstrado à exaustão noutro lado qualquer. Vejamos outro. There never was economic evidence in favor of capital market liberalization, There still isn't. It increases risk and doesn't increase growth. You'd think [defenders of liberalization] would say to me by now, 'You haven't read these 10 studies,' but they haven't, because there's not even one. There isn't the intellectual basis that you would have thought required for a major change in international rules. It was all based on ideology. Ideologia? Será mais um autor desinformado? Vejamos mais qualquer coisa: Next week's meeting of the International Monetary Fund will bring to Washington, D.C., many of the same demonstrators who trashed the World Trade Organization in Seattle last fall. They'll say the IMF is arrogant. They'll say the IMF doesn't really listen to the developing countries it is supposed to help. They'll say the IMF is secretive and insulated from democratic accountability. They'll say the IMF's economic "remedies" often make things worse--turning slowdowns into recessions and recessions into depressions. And they'll have a point. Antes que alguém vislumbre um francês bigodudo em cima de um tractor é melhor completar o parágrafo: And they'll have a point. I was chief economist at the World Bank from 1996 until last November, during the gravest global economic crisis in a half-century. I saw how the IMF, in tandem with the U.S. Treasury Department, responded. And I was appalled. Esta é de facto o início de um artigo por Joseph Stiglitz, vice-presidente do banco mundial de 1997-2 a 2000-2, antes professor em Stanford e agora em Columbia: "What I learned at the world economic crisis. The Insider" (o excerto anterior, sobre ideologia versus factos económicos, é de um artigo mais "light" na Salon). Nesse artigo Stiglitz fala do início da crise económica "na Tailândia, em 2 de Julho de 1997", na sequência da liberalização do mercado financeiro numa zona antes com uma performance económica adjectivada de "miraculosa". Faz comparações com a situação da América Latina. Fala de desaquação das respostas do FMI. Fala de alguns lados a tender para o trágico-cómico no modus operandi do FMI: When the IMF decides to assist a country, it dispatches a "mission" of economists. These economists frequently lack extensive experience in the country; they are more likely to have firsthand knowledge of its five-star hotels than of the villages that dot its countryside. They work hard, poring over numbers deep into the night. But their task is impossible. In a period of days or, at most, weeks, they are charged with developing a coherent program sensitive to the needs of the country. Needless to say, a little number-crunching rarely provides adequate insights into the development strategy for an entire nation. Even worse, the number-crunching isn't always that good. The mathematical models the IMF uses are frequently flawed or out-of-date. Critics accuse the institution of taking a cookie-cutter approach to economics, and they're right. Country teams have been known to compose draft reports before visiting. I heard stories of one unfortunate incident when team members copied large parts of the text for one country's report and transferred them wholesale to another. They might have gotten away with it, except the "search and replace" function on the word processor didn't work properly, leaving the original country's name in a few places. Oops. It's not fair to say that IMF economists don't care about the citizens of developing nations. But the older men who staff the fund--and they are overwhelmingly older men--act as if they are shouldering Rudyard Kipling's white man's burden. IMF experts believe they are brighter, more educated, and less politically motivated than the economists in the countries they visit. In fact, the economic leaders from those countries are pretty good--in many cases brighter or better-educated than the IMF staff, which frequently consists of third-rank students from first-rate universities. (Trust me: I've taught at Oxford University, MIT, Stanford University, Yale University, and Princeton University, and the IMF almost never succeeded in recruiting any of the best students.) Last summer, I gave a seminar in China on competition policy in telecommunications. At least three Chinese economists in the audience asked questions as sophisticated as the best minds in the West would have asked. Segue-se relatos de experiências (abreviando) infelizes pela Indonésia, México, Rússia. * * * E pouco tempo há para mais, por agora. Gastei imenso tempo e apenas deu para atirar uma pequeníssima parte das pontas da meada que vou coleccionando (infelizmente de forma desorganizada, daí o tempo para voltar a elas), apesar da minha imensa ignorância nestas questões. Possivelmente nem sequer toquei nas que era para tocar originalmente. Alguns podem voltar a perguntar o que é que tudo isto tem a ver com globalização. Serão apenas elementos desgarrados que nada demonstram sobre a globalização ela mesma (seja qual for o conceito)? Corresponderão à realidade? Quanto à primeira questão, e mais uma vez sem ter grande preocupação em definir exactamente o termo, apenas posso dizer que são elementos *aparentemente* centrais como parte integrante de algo a que se chama globalização, tanto dos pontos de vista de quem defende esse algo como dos pontos de vista de quem o critica (o plural nos "pontos" não é por acaso). Se os outros participantes nessa discussão os vêem como acidentais na questão, ou estão a falar de outra coisa quando se referem a "globalizaçao" (restrita ao plano ideais económicos e a um significado mais directamente etimológico, talvez), ou apenas lêem o "princípio dos folhetos", ou então a minha perspectiva da realidade está distorcida. Tal como errada pode ser a minha opinião sobre a autenticidade dos factos relatados (nos casos eu que eu não tiver dúvidas, e que não são trivialmente todos). Quando saímos do terreno das ciências exactas para o terreno político-económico, o destrinçar de verdades e mentiras torna-se muito mais complicado. Na falta de muitos dados, lá vamos usando a intuição, assente em informação fragmentada. Por mim, ficarei bem mais contente se neste domínio a minha intuição se mostrar errada. |
| | | | | ... com um pedido de desculpas aos leitores que se dão mal com o inglês, por não ter traduzido nada. |
| | | | Dois comentários: - O proteccionismo é uma boa ideia para o país que se protege numa determinada fase do seu desenvolvimento em determinadas condições. Esse país pode desrespeitar patentes e basear a sua indústria nisso. Foi o que o Japão fez e o que a indústria farmaceutica indiana faz neste momento. Mas isso só funciona se o país tiver um grande mercado interno porque caso contrário também não poderá exportar para os países ricos. E também não é um modelo totalmente ético porque os países que o fazem não têm custos de investigação. Suspeito também que isto só é a melhor opção porque existem enormes desigualdades de poder nestes países e o poder está centralizado, o que permite uma economia dirigista. As economias dirigistas tendem a beneficiar uma elite. Se a população do país tiver um alto nível de educação, o modelo de desenvolvimento terá que ser outro. E se calhar é por isso que as coisas na Irlanda funcionam.
- As políticas do FMI não são politicas liberais. O liberalismo defende, em primeiro lugar, a liberdade individual. O comércio livre é uma consequência da liberade individual. O que o FMI faz é, em muitos casos, contribuir para a formação de uma oligarquia corrupta sem exigir a transparência de processos nem o respeito dos direitos humanos.
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| | | | Pois, eu não quis insinuar que muito do que ia descrito acima fossem exemplos genuínos de liberalismo no sentido ideal, embora por vezes lhes tenha visto aplicada a etiqueta "neo-liberalismo". Pelo contrário, várias das fontes citadas procuram deixar clara a contradição entre o "marketing" das declarações de intenções (dando a aparência de liberalização simétrica) e a prática (liberalização num sentido, proteccionismo no sentido inverso). Quanto ao exemplo irlandês, tenho pena de pouquíssimo conhecer dele. Algumas sugestões de leitura? |
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