Agh, o 2010, essa aversão de estimação... Também assisti ao de ontem. Quando por acaso ele começa e tenho o televisor ligado, a tentação imediata é desligar, mas às vezes resisto e encaro a coisa como espreitar para um charco lamacento a ver que peixes nadam por lá (isto é, ver em que esgotos anda a ser despejado o nacional info-dinheiro). Para além da repetição até à náusea do obrigatório mantra Microsoft, o programa parece ser dominado por 2 tipos de "conteúdos": - publicidade de empresas (a "press release" mal disfarçada de notícia)
- publicidade do governo, em particular do MCT e respectiva miríade de buzzwords/iniciativas sociedade-da-informação, info-exclusão/inclusão, ciber-coisas e net.coisas.
E assim, exemplificando nas duas frentes, ficámos ontem a saber, por um lado, que o sítio da iwaytrade é (cito) "funcional", e que numa terra qualquer lá foram despejados mais 300000 contos num qualquer info-centro (não me lembro do nome) para combater a info-exclusão, o primeiro de muitos numa de muitas iniciativas. Pena não se ter percebido bem o que se conseguiu fazer afinal com esses 300000 contos. A passagem de 1 (no antigo 2001) para 3 pessoas (chamar-lhes jornalistas seria ofensivo para o jornalismo decente que resta) não melhorou nada, apenas piorou, especialmente com aquela senhora a quem ciclicamente são pedidas opiniões e que opina sobre tudo e mais alguma coisa, desde pedagogia à política indiana, passando por umas-coisas-sobre-computadores e cuja opinião sobre os tais info-coiso-centros se resume a parafrasear Zéca Afonso com "venham mais cinco, venham mais mil, venha tudo" (ou algo muito parecido). Enfim, se eu tivesse mais jeito para o negócio, se calhar também me juntava ao coro e dizia o mesmo... :-) O "departamento" "quem-não-sabe-é-como-quem-não-quer", que o BladeRunner deu a este artigo, parece-me especialmente apropriado porque é bem possível (esperemos) que a questão seja na maior parte uma de ignorância, pelo menos da parte de quem faz o programa. De facto, é fácil quem não sabe parecer não querer... Seja como fôr a situação é bastante triste, mesmo que tudo se resuma a a RTP não ter tido o cuidado de pôr alguém minimamente especializado a lidar com a informação, num programa que classifica de "informação especializada". Por outro lado, se acharmos que é mau o software livre ficar invisível até nestes trabalhos de "informação" (apesar de abominarmos a qualidade deles), não podemos estar sempre à espera que sejam os pseudo-jornalistas a descobrir o software livre e a queixar-nos uns para os outros clamando "injustiça" ou "corrupção" quando não descobrem. As duas hipóteses de trabalho essenciais ao lidar com essa classe (não me estou aqui a referir aos melhores jornalistas que fazem o trabalho de casa a sério) parecem ser: abunda a ignorância, abunda a preguiça. Perante isso, a Microsoft e o MCT só precisam de fazer o seu trabalho de casa: despejar informação em cima deles, e quanto mais preparada melhor. Desconfio que se do nosso lado fizermos algum trabalho de casa, enviando-lhes material digerido, o software livre e respectivas iniciativas começam a aparecer também. A nosso favor temos o entusiasmo das "bases", mas não basta lamentarmo-nos no nosso cantinho, a que poucos além de nós dão atenção. Se a MS & friends fazem o trabalho de casa, porque não fazermos também o nosso? |