Esta discussão foi arquivada. Não se pode acrescentar nenhum comentário. | | | Pessoalmente, até estou admirado por ter demorado tanto tempo até a censura ter começado a acontecer. Do que me lembro contar do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (que faz parte do Conselho Geral da FCCN), pode ser que alguns deles só agora estejam a perceber (ou, talvez mais exactamente, ainda não tenham percebido bem) o que é isso da Internet. Interessante o conselho dado pelo reitor ao estudante para que este apresentasse um requerimento por escrito. E a seguir? Impedido de aceder às páginas agora filtradas (seria interessante ver que percentagem dos acessos a material efectivamente pornográfico é feita por docentes), talvez algum do nosso mundo académico comece agora a reparar em páginas de instituições académicas estrangeiras (ou mesmo de amadores) que por comparação fazem há anos sobressair a sua mediocridade. Será em breve preciso preencher um requerimento para aceder também a essas? |
| | | | por Anonimo Cobarde em 27-05-01 14:05 GMT (#5) |
| O grande problema das faculdades de Coimbra é dinheiro. Perguntem a quem frequente as faculdades sobre os constantes rumores da falta de dinheiro, levantado-se questões sobre os estágios finais de muitos alunos. Agora uma pergunta, para onde vai todo esse dinheiro? Pode parecer estranho mas quem controlo o orçamento de muitas das faculdades não peritos em economia, nem em gestão de recursos, e para não ferir "sentimentos", nem formas de trabalhar dos docentes e investigadores, fazem orçamentos sem pés nem cabeça ( tem 52 mil para um ano, e conseguem gastar em menos de metade do tempo 32 mil). Para se fazer ensino de qualidade não é preciso gastar milhões, mas sim como gerir o que têm. Em relação à rede das redes, claro que o acesso que é dado pela UC tem que ser pago à PT, mas existe formas de limitar o acesso para além de barrarem o acesso às paginas de porno e mp3. Ah!, não se esqueçam que a UC, fornece também acesso aos seus alunos em casa, e esses pagam as chamadas de acesso ao servidor e também estão a ser filtrados, o que não tem pés nem cabeça. Se querem poupar porque é que não organizam um protocolo com a PT, ou outro operador, como a ONI, Novis e outros para que os alunos de engenharia informática e electrotécnica trabalhem em projectos destas empresas, e estas comprometem-se a fornecer a custos muito reduzidos, ou à borla, o acesso à NET? Além disso em vez de comprarem computadores com windows e office porque é que não instalam linux e um pacote de office freeware, ou opensource, para pouparem uns milhões ao final do ano? E que tal reciclarem as velharias que quase todos os departamentos têm para criarem uma intranet, no qual os alunos podessem por a sua informação à disposição da UC, e assim limitarem o uso da internet na UC. Acho que os alunos da UC, têm capacidade amis do quesuficiente para criarem uma intranet com uma qualidade bastante elevada, mas deêm recursos ( as velharias). além do acesso a sites pornos e mp3, porque é que não falam do IRC? É que parece que não é passatempo favorito de muitos alunos. Desculpem andar a enviar ideias para o ar, mas não acham que é tempo da UC, acordar para a realidade e começar a gerir a universidade não como um museu, mas sim como uma unidade de ensino? |
| | | por Anonimo Cobarde em 28-05-01 18:17 GMT (#31) |
| Não deixa de ter piada ver as páginas que já estiveram na black list: http://www.winamp.com http://www.xmms.org http://www.socks.nec.com http://www.php.com:8000 para mencionar só algumas... |
| | | por Anonimo Cobarde em 27-05-01 13:02 GMT (#2) |
| é que o referido sistema foi primeiro implementado sem o conhecimento do reitor, nem dos presidentes dos conselhos directivos, nem sequer dos administradores de sistemas das faculdades pelos engenheiros do "Centro de Informática da Universidade de Coimbra", que quem conhece sabe bem como se consideram os "donos" da rede. Só passadas duas semanas é que depois de muita pressão é que produziram um relatório em que procuravam justificar o injustificável,dizendo que se tratava de uma forma de poupar a largura de banda, impedindo o acesso a páginas pornográficas ou sites de mp3 (estes só dentro de determinados horários). Penso que os leitores da gildot são suficientemente inteligentes para perceber que se todo o tráfico web da universidade de coimbra tem que passar por uma máquina correndo o "websense" que literalmente lê cada página antes de decidir conceder o acesso ou não, não há nenhuma poupança da largura de banda, mas enfim alguém se encheu de dinheiro de certeza. Pista:Não são os estudantes que "puxam" gigas e gigas de videos, warez e mp3. Quanto ao pr0n e ao proxy transparente, há evidemente soluções engenhosas, mas é muito chato ter que explicar ao um estudante estrangeiro, porque é que ele não consegue aceder ao seu próprio e-mail pelo webmail só porque recebeu uma mensagem mais colorida. (antigo administrador e colaborador que não se pode identificar por razões óbvia$) |
| | | | por Anonimo Cobarde em 27-05-01 13:47 GMT (#3) |
| Se fosse so no CIUC... se soubesses a quantidade de projectos interessantes que o Centro de Informatica da UMinho abortou a nascenca... quer por falta de apoio, recusa explicita (voces sao akarus e por isso como sao maus nao podem ter maquinas com acesso de root), ou sob a desculpa de que ja teem planeado fazer o tal projecto (e que nunca veio a aparecer) e por isso nao faria sentido que estudantes o fizessem.
So tenho pena de nao ter gravado estas coisas numa fita de vidio, que iriam logo para o Isto so Video.
Um abraco de quem se identifica convosco. |
| | | | Trengo, e video, mas de resto tb ja passei por isso ;) |
| | juarez (Pontos:0, Esclarecedor) |
| por Anonimo Cobarde em 27-05-01 17:27 GMT (#6) |
| por acaso ate sao os estudantes que sacam resmas e paletes de warez e mp3 e p0rn :) provava-te isso mas por razoes obvias num posso :PPP toda a gente sabe que as linhas das universidades sao usadas para sacar paletes de mp3 e warez e filmes e por ai fora...sao as mais rapidas... portanto toca a usar... para quem tiver dentro da coisa sabe muito bem que os sites de juarez sao 99% localizados em universidades e assim vai continuar a ser enquanto as univs tiverem linhas rapidas (ver o exemplo da suecia em que as linhas das univs sao simplesmente de SONHO :)) . Eu matava pa tar numa residencia sueca com o puter todo o dia a sacar mp3 :)
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| | | | "Eu matava pa tar numa residencia sueca com o puter todo o dia a sacar mp3 :) " Tems as prioridades todas trocadas. Se eu tivesse num residencia na suecia tava-me a cagar para os mp3 e para as linhas. Queria era as belezas esculturais loiras e esbeltas que por lá abundam. "Os homems preferem as loiras"
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| | | | Sobre a largura de banda, parece-me que há uma diferença muito importante: Se o acesso é facultado sem restrições, o "cliente" visita o sítio uma vez, outra, uma terceira, diz aos amigos, etc.. Se o acesso não é facultado, o primeiro acesso gasta tanta banda como se fosse facultado, mas não há o segundo acesso e por aí fora. Ou seja, realmente gasta-se menos largura de banda. No entanto a largura de banda parece-me ser pouco importante. O tempo que o humano gasta importa muito mais. É absurdo que a Universidade (ou uma empresa qualquer) assista ao uso intensivo da rede para fins lúdicos durante horas por dia e não faça nada para mudar isso. A rede é boa, mas se for para ser usada assim acaba por ser má. A função da Universidade é ensinar, não é levar a malta ao cinema... Mas nada disto significa que, neste caso particular, as coisas tenham sido bem feitas. Disso não sei, não conheço a situação. |
| | | por Anonimo Cobarde em 28-05-01 17:14 GMT (#23) |
| O websense não lê cada página antes de a carregar. Basicamente ve uma lista de urls, e se o url estiver na base de dados OU acabar em mp3, não passa. Nem que seja literatura lida pela voz dos proprios autores. Mais interessante ainda é o seguinte: Trying 206.251.29.10 port 80... Connected to www.playboy.com. GET / HTTP/1.0 HTTP/1.0 302 Moved Location: http://193.136.203.27:15871/cgi-bin/blockpage.cgi?ws-session=369252288 Pragma: no-cache Cache-Control: no-cache img/gam/bankbuster2.gif°Ö €= image/gif age/gif Ð@Ž Ü0ô¨.80Ü080Ü0€ÈrP ;rP yŠtext/htmlïªe&1ôªe^ø©2¼æ ;ªˆ3ÁˆÈ$>b€,V ÿÿÎúÞQ2ÿÿÿÿÿÿÁˆÈ$PÿÿŒ1ªªœg-0 y ?_¯0ì Œ1¨'y Não deixa de ter piada, que no fim do 302, apareça o conteúdo do buffer que é usado pelo websense para *TODAS* as ligações. Há já quem tenha conseguido encontrar passwords interessantes aqui, chafurdando pelo meio das cookies :) |
| | | | A liberdade não é boa nem má. O que é bom, ou mau, é o que nós fazemos com a liberdade que nos é concedida. [Sim, é concedida. Não por nenhuma divindade, não por nenhuma Declaração Universal de Boas Intenções, mas pela sociedade em que vivemos no dia-a-dia (ou seja, pelas pessoas à nossa volta).] Não conheço o problema específico da Universidade de Coimbra, mas temo que na sua análise falte ter em consideração o pensamento acima. Costuma faltar. A verdade é que se a liberdade para fazer X é mal usada, é inevitável que ela seja restringida. Como exercício, apliquem este pensamento aos seguintes casos: - Napster vs. liberdade (direito) de fair use.
- Sistema de moderação do Gildot vs. liberdade de fazer os comentários que se quiser.
A Liberdade é como a Água: Ambos são bens escassos e preciosos, que devem ser bem usados. Mas a ambos tratamos com desprezo como se fossem infinitos. No caso da Água, passaram-se décadas antes dos grupos ecológicos conseguirem trazer o problema à luz do dia. Quanto tempo passará até acontecer o mesmo com a Liberdade? Será que vai ser preciso uma "catástrofe ambiental de liberdades mal usadas" para "aprendermos"? |
| | | | | A liberdade não é boa nem má. O que é bom, ou mau, é o que nós fazemos com a liberdade que nos é concedida. Discordo da ideia do concedida. As pessoas são livres por natureza. Se a sociedade achar que os individuos não têm direito a essa liberdade então essa sociedade vai ter que retirar pela força a liberdade aos individuos. A sociedade não dá, restringe. Supostamente, a sociedade é uma associação de individuos lives que optam por prescindir de determinados direitos. A sociedade poderá, quanto muito, dar os meios para a expressão de ideias, como é o caso do que se passa na Uni. de Coimbra em que a sociedade é que paga os computadores e a ligação à rede. E nesse caso a sociedade pode retirar os meios, mas não pode impedir as pessoas de se exprimirem pelos seus proprios meios nem pode impedir o acesso à informação por meios privados.
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| | | | Isto dava umas conversas porreiras nas aulas de Filosofia! :-) As pessoas são "livres por natureza"? Concordo com um átomo mas discordo duma montanha. Concordo apenas num sentido: o de que um indivíduo que vive isolado não tem que prestar contas a ninguém. Mas o indivíduo isolado não é "livre" de fazer o que quer. Tem toda a espécie de restrições. Por exemplo, tem que gastar tempo a procurar alimento. Por exemplo, não tem a liberdade de andar de elevador. Ou de escutar o Adagio de Albinoni. Queira ou não. Ou seja, não é nada "livre". A sociedade dá liberdade e tira liberdade. Por exemplo, a sociedade liberta-nos da "prisão" que é ter que passar todo o dia a procurar alimentos. A sociedade dá-nos a liberdade de viajar para o outro lado do mundo no mesmo dia (dá-nos acesso a aviões). E a sociedade tira liberdade de formas variadas, dependendo da maneira como se organiza. Em certas formas de organização tira (ou parece tirar) muito, noutras parece tirar menos. A ideia de que a liberdade é uma coisa "natural" que nasce connosco parece-me extremamente perversa. Inverte e distorce as espectativas todas. Apresentar a liberdade como coisa "natural" é dizer às pessoas que não precisam fazer nada para ter liberdade. Esse é um erro dramático. Elas (nós) têm (temos) que fazer, e muito. E todos os dias. A liberdade é uma conquista permanente. Lutamos por espaço e recursos, lutamos por saúde e conforto, lutamos por comida, lutamos para sermos ouvidos, lutamos por amor e sexo, lutamos para conseguir o melhor para os nossos filhos, e lutamos para ter que lutar cada vez menos. Apenas teoricamente (e numa teoria muito má, amplamente negada pelos factos experimentais) se pode dizer que a sociedade seja uma associação de indivíduos livres que optam por prescindir de determinados direitos. Esta ideia pode ser atacada de tantas maneiras que até entontece. Por exemplo, aquela ideia parte do princípio de que no início há indivíduos "livres" (no sentido físico de "particula livre") que depois decidem formar a sociedade. Disparate. No início há recém-nascidos totalmente dependentes que surgem já no seio da sociedade e são, inclusivamente, educados por ela a ponto de ficar com as ideias moldadas por essa educação. É por isso que há umas sociedades muçulmanas e outras cristãs. Mas o maior erro parece-me ser o de que se considera, implicitamente, que os indivíduos livres têm direitos. Ora bem, por mais que eu pense não me ocorre nenhum direito que um indivíduo livre (isolado) tenha. Nem um. Por exemplo, que direitos tinha Robinson Crusoe na ilha deserta? A questão é que para alguém ter direitos é preciso que outros tenham o dever de garantir esses direitos. Ou seja, é preciso haver "outros" organizados numa "sociedade" que se estruturou de forma a garantir "direitos". Tudo isto é incompatível com a ideia de que o indivíduo tenha direitos "inerentes". Os direitos não são próprios do indivíduo, mas atribuídos pela sociedade. As pessoas não têm direitos inerentes nenhuns. Apenas os têm se viverem numa sociedade, e se essa sociedade lhes atribuir direitos. |
| | | | Que confusão! O teu conceito do que é um direito está um pouco confuso. O único direito humano é o direito à liberdade. O direito à liberdade engloba, como é obvio o direito à vida. Se a sociedade te rouba a liberdade ou a vida esta-te a tirar um direito. O resto do que falas é comercio. Ninguém tem o direito a uma casa, a viajar de avião ou a ver o seu direito à liberdade protegido. Essas coisas são trocadas por outros bens de igual valor. Assim, se queres viajar tens que dar em troca um valor igual, se não bem que ficas em Terra. Se queres uma polícia que proteja o teu direito à liberdade tens que pagar de alguma forma, de preferencia a uma entidade eleita democraticamente para o efeito. O direito à liberdade não implica o direito a retirar a liberdade dos outros, não implica o direito ao sexo, nem ao amor, nem ao conforto nem ao que quer que seja. Essas coisas conquistam-se através do uso da liberdade de cada um e da interacção com os outros. A sociedade por vezes poderá violar a tua liberdade impedindo a mobilidade, a iniciativa, o livre comercio, troca de ideias e a comunicação. Mas isso são violações do direito dos individuos à liberdade (a não ser que o individuo tenha cometido um crime - um crime é qualquer acto que ponham em causa a liberdade dos outros). Uma sociedade não tira a liberdade quando os seus individuos são incapazes de produzir bens materiais que facilitam a vida das pessoas, a não ser que isso resulte de uma violação da liberdade dos individuos por parte da sociedade. Uma sociedade não dá liberdade por fornecer bens materiais aos individuos, porque numa sociedade livre os bens e serviços não caiem do céu. Produzem-se e trocam-se.
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| | | | Não há confusão: O direito de uns é o dever de outros. Se não for assim, o "direito" é um conceito completamente inútil. Para que me serve ter "direito à liberdade" ou "direito à vida" se não houver ninguém a quem eu possa reclamar esse direito? Por exemplo, se um recém-nascido estiver só numa ilha deserta não vai ter muita sorte, mesmo que ao lado tenha um papel dizendo "É só para te lembrar que tens direito à vida. Felicidades." O mesmo se passa se se tratar dum adulto saudável num deserto sem água. O direito só pode ser "activado" se houver alguém ou algo (digamos, uma "sociedade") que aceitou o dever de o garantir. É necessário que a sociedade aceite um dever para que seja garantido um direito. É nesta acção deliberada da sociedade que consiste a concessão de direitos. É por isso que para mim apenas faz sentido falar de direitos concedidos. Os que não são concedidos são abstracções sem efeito prático que não seja fazer pressão mediática sobre a sociedade para que os conceda. Em todo o caso o problema gira sempre à volta da concessão do direito, pois só depois de ele ser concedido é que pode ser reclamado. A ideia de que há direitos inerentes, que não precisam ser concedidos, implica um terrível mal-entendido, que é o de que há coisas garantidas por milagre! |
| | | | Por exemplo, se um recém-nascido estiver só numa ilha deserta não vai ter muita sorte, mesmo que ao lado tenha um papel dizendo "É só para te lembrar que tens direito à vida. Felicidades." A geração de uma criança implica obrigatóriamente a aceitação da resonsabilidade de cuidar dessa criança para proteger o seu direito à vida. O mesmo se passa se se tratar dum adulto saudável num deserto sem água. O direito só pode ser "activado" se houver alguém ou algo (digamos, uma "sociedade") que aceitou o dever de o garantir. Um adulto saudável num deserto sem água tem o direito à liberdade, não tem direito à água. Nenhuma sociedade garante o direito à àgua. A àgua paga-se. No entanto, o homem no deserto tem direito à liberdade. Tem o direito de não ser morto, preso, torturado ou de não sofrer qualquer outra forma de limitação activa da sua liberdade. O teu direito à vida não é um direito social que a sociedade concede se o desejar. É um direito que te pode ser retirado por essa sociedade. Numa ilha deserta esse teu direito é preservado com toda a certeza. Numa grande cidade poderá não ser.
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| | | | No exemplo da criança ela estava sózinha. Imagina que a mãe faleceu no parto. Tanto neste como no exemplo do deserto o direito a que me referia era o direito à vida. Quanto à liberdade, em abstracto, parece-me um conceito insuficiente. Preciso sempre perguntar: Liberdade para fazer o quê? As respostas mostram os limites da liberdade de que efectivamente se usufrui. As respostas mostram, por um lado, que a liberdade efectiva do indivíduo isolado é muito pouca, e por outro que as várias liberdades adicionais do indivíduo que vive em sociedade são concedidas. Podem-se inventar exemplos até enjoar. Se o indivíduo isolado cair num buraco-com-grades que-parece-mesmo-mesmo-uma-prisão, fica privado de liberdade. A quem é que ele recorre para lhe ser restituida a liberdade a que "tem direito"? A questão é sempre a mesma: Os direitos de uns, para servirem para alguma coisa, são deveres de outros; portanto, os outros têm que aceitar estes deveres para conceder aqueles direitos, logo os direitos são concedidos. Se eu pensar na liberdade como um mapa onde o indivíduo se pode deslocar como quer, a área do mapa a que o indivíduo isolado tem acesso é minúscula. Em casos drásticos como escravatura extrema ou experiências médicas, a área do mapa acessível ao indivíduo em sociedade pode ser menor, no entanto a situação que conhecemos é a de uma sociedade que dá acesso a um mapa com área muito grande. Aceito que se diga que o acesso a essa área vasta implicou a perda de acesso a partes mínimas da área "primordial" (do indivíduo isolado), mas parece-me coisa irrelevante. E o acesso à área maior (social) é, todo ele, concedido. [Não quero iniciar mais um mal-entendido: quando falo de área do mapa, associo-a à importância das liberdades de que efectivamente se consegue usufruir, não ao seu número.] Posso então pensar que, afinal, sempre há a liberdade "primordial" e que a noção de direito pode ser construída a partir dela. Não concordo nada. Parece-me uma má aplicação da teoria do "bom selvagem". Além disso considero que a liberdade primordial é tão limitada que, de facto acabamos por estar a discutir bagatelas. De facto o "indivíduo isolado" é uma abstracção que apenas está a atrapalhar as ideias. Prefiro pensar, de base, que o indivíduo vive em sociedade e que a sociedade lhe concede direitos. Alguns são concedidos de forma grandiloquente, como na Declaração Universal dos Direitos do Homem (todo o homem nasce livre e igual perante a lei, etc), mas não nos devemos deixar confundir pela forma do texto, pois o facto é que os direitos estão a ser concedidos. A mera existência do texto mostra que se está a conceder algo que antes (antes do texto) não exisita. |
| | | | No exemplo da criança ela estava sózinha. Imagina que a mãe faleceu no parto. Tanto neste como no exemplo do deserto o direito a que me referia era o direito à vida. O direito à vida é o direito que se tem de ninguém nos tirar a vida. Não é o direito a se ser imortal. Podem-se inventar exemplos até enjoar. Se o indivíduo isolado cair num buraco-com-grades que-parece-mesmo-mesmo-uma-prisão, fica privado de liberdade. A quem é que ele recorre para lhe ser restituida a liberdade a que "tem direito"? O direito à liberdade não é o direito a que nos resolvam os problemas, é o direito que temos de que os outros não actuem para nos retirar a liberdade. portanto, os outros têm que aceitar estes deveres para conceder aqueles direitos, logo os direitos são concedidos. O dever dos outros é o dever de não agirem para retirar a liberdade. Poderá também ser o dever de impedir que terceiros violem a nossa liberdade se para isso existir um contrato implicito ou explicito. Os outros não têm mais nenhuma obrigação. Se eu pensar na liberdade como um mapa onde o indivíduo se pode deslocar como quer, a área do mapa a que o indivíduo isolado tem acesso é minúscula. Todos os individuos têm acesso à sua área minuscula mas podem trocar o aesso à sua área pelo acesso à área dos outros. Isto acontece quando a troca é justa e o resultado é cada um pode percorrer a parte do mapa pela qual lutou. Prefiro pensar, de base, que o indivíduo vive em sociedade e que a sociedade lhe concede direitos. Alguns são concedidos de forma grandiloquente, como na Declaração Universal dos Direitos do Homem (todo o homem nasce livre e igual perante a lei, etc), mas não nos devemos deixar confundir pela forma do texto, pois o facto é que os direitos estão a ser concedidos. A mera existência do texto mostra que se está a conceder algo que antes (antes do texto) não exisita. Essa abordagem leva ao absurdo que consiste em dar direitos que ninguem pode garantir. O direito à habitação, à saude, à educação são direitos absurdos. Essas coisas têm que ser produzidas antes de ser distribuidas. Não são direitos, conquistam-se com trabalho e nenhuma sociedade os pode garantir.
---- joao nonio.com - ciência, tecnologia e cultura |
| | | | Não concordo nada com isto mas o tempo é escasso. Pego apenas num ponto: """O direito à vida é o direito que se tem de ninguém nos tirar a vida. Não é o direito a se ser imortal.""" Se falamos do direito a ninguém nos tirar a vida estamos implicitamente a falar duma situação em que existem outras pessoas. Ao falar de direito desta forma estamos, sempre, no contexto duma sociedade. Gosto disso pois permite-me ser menos confuso. Falemos então do direito que temos a ninguém nos tirar a vida. A questão que coloquo é simples: Porque é que temos esse direito? |
| | | | Falemos então do direito que temos a ninguém nos tirar a vida. A questão que coloquo é simples: Porque é que temos esse direito? Porque não existem razões naturais para distinguir um Homem dos restantes. Logo, nenhum Homem pode ter direitos sobre outro, a não ser que esse outro escolha prescindir dos seus direitos. Como não existem razões naturais não há razão para que um Homem escravise outro, ou mate outro, ou torture outro. A tua pergunta não faz sentido. As acções é que têm que ser justificadas. Matar é agir. Quem mata tem que justificar o seu acto.
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| | | | Enfim, fui "desonesto" (ou perguiçoso) ao fazer a pergunta sem dizer qual é a minha resposta. Tenho muita pena que esta conversa seja por escrito, fica tanto por dizer... A minha resposta é previsível: Temos aquele direito (à vida) porque ele nos é atribuído pela sociedade. Existem inúmeros exemplos históricos de sociedades em que o direito à vida não era atribuído. Sociedades com escravatura em que a vida do escravo é propriedade do dono e sociedades em que a vida da esposa é propriedade do marido são exemplos que me ocorrem. Aparentemente essas sociedades foram organizadas ignorando a tua argumentação. Isto pode fazer suspeitar que essa argumentação é "cultural" e "conjuntural", ou seja, que não contém nenhuma parcela de "verdade fundamental". Em suma, é discutível. Compreendo a argumentação de que as acções é que têm que ser justificadas. Ela parece natural, mas a sua adopção como axioma-base conduz a mais uma mão-cheia de paradoxos e exemplos desagradáveis. A não-acção perante muitas situações é igualmente condenável e deve também que ser justificada. Se a acção de matar é condenável, também é condenável a inacção que deixa morrer, e se for possível establecer um nexo de causalidade suficientemente forte entre a inacção injustificada e a morte não vejo porque não devam ambas ser consideradas assasínio. O caso óbvio é o da mãe que não alimenta o filho, mas também se podem conceber casos em que um desconhecido afogado é ostensivamente ignorado por alguém a quem bastava estender a mão, por exemplo. Estas coisas são condenáveis pela sociedade porque a sociedade atribui um grande valor à vida dos seus indivíduos. Não há explicações "mais fundamentais". A explicação de que "a acção é que tem que ser justificada" não é uma justificação mas um argumento, com o qual se pode concordar ou não. Eu não concordo, pois acho fácil encontrar casos em que a não-acção precisa ser muito bem explicadinha. Seja como fôr, mesmo que concorde com o argumento, o efeito prático da minha concordância é apenas eu atribuir os direitos que essa concordância implica, o que acaba por dar no mesmo: Os direitos são atribuídos, seja um a um, seja em grupos lógicamente implicados por outras condições. Se a sociedade não atribuir o direito X (ou, equivalentemente, não concordar com o argumento Y), não há como exercer o direito em causa. Ele não existe, ponto. |
| | | por Anonimo Cobarde em 27-05-01 19:20 GMT (#8) |
| É parece que a censura está em moda na internet, não tou a ver a moral de algums users, moderadores e especialmente editores, do gildot em dizer mal da censura da universidade de coimbra quando na sua casa (gildot) tambem a defendem e aplicam-na. |
| | | | por Anonimo Cobarde em 28-05-01 17:38 GMT (#26) |
| Putas não ! Paneleiros ! Pois o WebSense deixa passar os sites de Paneleiragem ! O que nos leva a concluir que o Websense não é heterosexual... |
| | | | Desculpem se o que vou dizer chocar alguns mas verdades têm de ser ditas.
Se a UC disponibiliza o acesso à internet aos alunos é para lhes facultar uma ferramenta necessária aos estudos. Pode eventualmente ser também para lhes fornecer também a actividade de lazer que representa o webing chat ou outros. Se a Universidade tem falta de meios para assumir esses dois encargos deve cortar é no segundo, pois os estudantes estão lá é para estudar.
Claro que a forma como foi feita não foi a correcta, talvez porque as motivações não são as que acima referi. e isso traz as seguintes consequências : 1 quem procura poesia erótica e quem recebe mailes adocicados não tem acesso a um serviço necessário aos estudos. 2 quem chateia e saca resmas de ficheiros que não têm a ver com estudos continua a ocupar largura de banda.
Se o problema é de recursos a UC deve é impedir todo o trâfego de lazer, e não só o dos sites pornográficos. Só que isso não pode ser feito com filtros, porque é muito difícel fazer um filtro que funcione correctamente para esse efeito. A única hipótese que resta é fazer com que os estudantes tomem consciência de que se os recursos são poucos deve ser dada a priridade ao uso por quem precisa para o estudo --utópico?--. Não cabe na cabeça de ninguém um estudante que procura informações para acabar um trabalho urgente esperar horas e horas porque outros usam a net para se divertirem. É uma questão de respeito pelos outros.
Na empresa em que trabalho, 50 pessoas partilham um acesso à internet lentíssimo. Eu não sou ditador, nem fascista, mas também não deixo ninguém utilizar o napster durante as horas úteis em que pessoas que trabalham com a internet ficam com o seu trabalho dependurado à espera.
O meu post é principalmente sobre a diferença entre o uso recreativo e e o uso para trabalho da internet. Mas sobre o que iniciou a thread ou seja a censura dos sites pornográficos também é um assunto que não é tão simples como "censura é censura, e se começam a censurar sites pornográficos, amanhã censuram o resto". Lembro que Faculdade é um lugar público e como tal toda a gente pode ver o que aparece nos monitores. Há que ter algum cuidado com as imagens que se impõem à vista dos outros. Pode não ser agradável, emquanto se espera por um computador livre ver desfilar imagens de pornografia. Não venham dizer que sou moralista... Não tenho nada contra pornografia, só que eu desfruto pornografia sem a impôr aos outros, num ambiente privado. A comparação é extrema, mas o princípio é o mesmo, mesmo sem ter nada contra a masturbação, achariam correcto alguém masturbar-se em público?
Como já disse, é uma questão de respeito pelos outros. ------ EOFim. |
| | | | | Naturalmente que não defendo que assegurar o acesso à pornografia e a utilização lúdica da rede devam ser prioridades universitárias, e naturalmente que defendo que interessa fomentar o uso tão razoável quanto possível dos recursos. Mas por outro lado considero grave esta implementação universitária de filtragem censória de tráfego na rede, com base no conteúdo ou no tipo de comunicação; considero-o assim por uma questão de princípio, mesmo antes de ter em conta os problemas adicionais gerados pelos defeitos da tecnologia da filtragem ou pelos "defeitos" de quem a configura. Considero-o assim tendo em conta a natureza da instituição, não estando a afirmar que penso o mesmo para todos os ambientes por onde passa a nossa vida (nem todas as restrições de um meio são necessariamente violadoras da nossa liberdade geral, se estiver assegurado que a nossa vida não se restringe a esse meio). Para mim o problema central é um de prioridades e responsabilização dos indivíduos, e aqui incluo estudantes e docentes (a propósito, note-se que não faltam casos em que os monitores destes estão num ambiente em que certamente não estão tão facilmente à vista dos outros). Um estudante ou docente numa universidade ou outra escola não têm apenas direitos mas também obrigações. Não havendo na verdade "almoços grátis", o estudante, por exemplo, está a usufruir um serviço pago em maior ou menor grau por ele próprio ou por outros. Este serviço exige supostamente que o estudante corresponda aprendendo e trabalhando e progredindo no curso. E o docente tem também de ensinar bem, e eventualmente fazer investigação. Ora, se toda esta gente não viver num ambiente de irresponsabilidade, terá de prestar periodicamente contas do que faz e sentir na pele os efeitos do que vai fazendo na vida. Terá de fazer trabalho, progredir, ser avaliada... idealmente com gosto por o fazer. Com gosto e responsabilização, as pessoas têm pressa de despachar trabalho, o tempo de ócio será menor, e a pressão entre pares para não se desperdiçar recursos será bem maior ("pára lá com o ciber-blah-blah que tenho de usar essa máquina para trabalhar"). Faltando responsabilidade e gosto pelo trabalho, focalizar a atenção nestes mecanismos de censura parece apenas colocar mais um penso rápido por cima de uma gangrena como tantos outros que infectam a nossa educação. Estamos na terra onde parece mais fácil ouvir docentes a falar de futebol e férias do que de daquilo que ensinam e investigam. Estamos na terra onde uma cantina universitária se silencia para assistir a algo como o Drangonball Z. Parece-me que temos coisas mais importantes para avaliar do que páginas WWW e pacotes IP. Se essa avaliação fosse feita, talvez os estudantes não tivessem tempo para ocupar tanta largura de banda com "material extra-curricular", talvez o tal Centro de Informática não tivesse tempo nem dinheiro para estes mecanismos de filtragem, talvez o reitor estivesse mais ocupado com questões de fundo e pedisse menos requerimentos por escrito, e talvez tivéssemos notícias mais nobres para relatar da Universidade de Coimbra. |
| | | | | As questões de princípio são várias e, perante casos concretos, frequentemente revelam incompatibilidades que têm que ser resolvidas. Concordo que por questão de princípio o acesso à informação deve ser irrestrito, especialmente no meio universitário. Julgo que também concordas com outra questão de princípio: As instituições que não cumprem a sua função devem ser alteradas de forma a que a cumpram, ou extintas. No nosso caso, a função em causa é a função da Universidade -- que é ensinar. Se porventura o uso prático que se dá do acesso irrestrito à rede na Universidade inviabiliza o cumprimento da sua função de ensinar, há que rever qualquer coisa... Notar de passagem que nem se fala do acesso à informação em geral, mas simplesmente do acesso à informação através da rede. Há Vida para além da rede. Por exemplo, não consta que haja restrição ao transporte pelos alunos ou docentes de revistas para dentro das instalações universitárias (mesmo publicações porno ou desportivas), pelo que não se pode falar verdadeiramente de censura nem de impedimento de acesso à informação. Trata-se, simplesmente, de regular o uso duma forma específica de comunicação de forma a evitar que os efeitos secundários preversos dominem. Não percamos de vista a realidade: A regulação só é defensável se a sua ausência provoca situações de preversão da finalidade da Universidade (ou seja, se a malta usa mal a liberdade que tem). Sobre a tua questão da responsabilização dos indivíduos, concordo que ela é indispensável. No caso da Universidade não a limito aos estudantes e docentes e incluo também as pessoas e orgãos cuja tarefa é zelar por que a Universidade cumpra a sua função: Conselhos directivos, reitores (e no topo o governo). Essas pessoas devem fazer o seu trabalho e ser responsabilizadas se as coisas correrem mal. Por exemplo, se a estatística mostrar que o número global de alunos reprovados aumenta, algo está mal e algo deve ser feito. Impedir as pessoas de abusarem alarvemente de divertimentos no local de trabalho parece-me uma coisa óbvia a fazer e nem é muito original. Nas obras há o capataz para evitar que a malta fique toda a moinar. É um sistema que funciona desde as pirâmides. A outra coisa óbvia é responsabilizar efectivamente as pessoas pelos seus actos. Claro que num sistema em que a norma é a irresponsabilidade, em que a turba mostra asco pelos "fascistas" (é tão fácil dizer palavras que não se entendem...) que se atrevem a atribuir responsabilidades, em que se promove o facilitismo a todos os níveis, o problema das páginas porno fica um bocado secundarizado. No entanto ele continua a existir, e considero que ignorá-lo apenas piora as coisas. Aceitar a situação sem nada fazer é, exactamente, pactuar com o facilitismo reinante. Era muito mais fácil e até se evitavam colagens incómodas a figuras como "censura"... Mas nós, que não queremos promover o facilitismo, não vamos nisso! |
| | | | Bom, alguem disse que a filtragem em Coimbra e' baseada no texto dos documentos e nao apenas na origem. O que alias pode dar origem a problemas bastante serios de filtragem despropositada. Quanto `as imagens propriamente ditas, e' mais dificil... mas por acaso (enfim, nao por acaso) ha' investigacao em algoritmos para detectar a presenca de corpos humanos nus numa imagem... Espreita por exemplo o artigo "Finding Naked People"... |
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