I have come up with a sure-fire concept for a hit television show, which would be called `A Live Celebrity Gets Eaten by a Shark'. -- Dave Barry, "The Wonders of Sharks on TV" Claro, só vai ver quem quer. A propósito, acabei de ter uma ideia para um novo concurso, que em vez de copiar ideias estrangeiras e contribuir para perdermos a nossa indentidade cultural se baseia na nossa Tradição e portanto (pelo Teorema de Barrancos) é Bom. Como além disso se pode considerar Animação Cultural até vai merecer certamente uns subsídios do Ministério da Cultura e da Câmara Municipal de Lisboa (e outras edilidades, já que nada impede uma fase itinerante segundo o modelo do concurso "Cantigas da Rua"). Estou certo de que a TVI vai acarinhar esta iniciativa. Para concorrer mais directamente com o programa "Santa Casa", chamemos-lhe "Santo Ofício Show" (SOS). De preferência, o SOS arrancará a meio de Julho. Logo no princípio de Junho, a TVI deverá começar a promover a coisa com um trailer em que aquele apresentador do "Quero Protag^H^H^H^H^H^HJustiça" se passeia por bairros antigos de Lisboa e pelo Terreiro do Paço apelando a um reavivar da Chama Bairrista e falando entusiasmado de um novo programa que vai certamente "inflamar o país". "Milhões já assistiram, milhares já participaram. Chegou agora a Sua oportunidade. Se Você é audaz, está insatisfeito com a sua vida diária, quer usufruir uma semana de férias em [inserir local turístico], sentir o calor da acção e deixar de lado as suas preocupações do dia-a-dia, então este programa é para Si. Contacte-nos e transforme de vez a sua vida." Resumindo muito o Conceito, os concorrentes contemplados com a possibilidade de participar no SOS, depois de uma semana de férias num local aprazível que seria registada por um daqueles programas dedicados ao Jet-Set e outros-que-aparecem-nos-media, sairíam em limousines abertas dos estúdios da TVI em direcção ao local do espectáculo: o Terreiro do Paço em Lisboa ou a praça principal de qualquer outra cidade onde decorresse o Show naquele dia. No destino da viagem estaria já montada toda uma estrutura com bancadas para público, e reservado espaço para acesso livre por quem quiser assistir sem convite. Seriam naturalmente convidadas a assistir figuras públicas de destaque, forças vivas do concelho, autarcas, deputados, pilares da comunidade, autoridades civis-militares-e-religiosas, os bombeiros voluntários, etc. Num grande palco iriam entretanto actuando os reis da música nacional. A TVI não deve esquecer-se de ser coerente com a moda e contratar um apresentador com ar imbecil para ir dando ritmo ao espectáculo com alguma dança e anedotas igualmente imbecis. Cada programa deverá ser acompanhado por dois convidados ilustres que vão sendo entrevistados para dar prestígio à coisa. Por exemplo, logo no primeiro o Carvalho Rodrigues e o Paulo Cardoso podem conversar sobre "Os Quatro Elementos e a Essência Divina do Fogo". À chegada, os concorrentes seriam entrevistados, a câmara destacaria na audiência os olhares embevecidos dos famaliares orgulhosos, e de repente, já ao pôr do sol, surgiriam do chão do palco três postes, decorados com os logotipos e nomes das empresas patrocinadoras. Tudo envolvido por fumo, faíscas e raios laser. O nosso apresentador e as suas ligeiramente vestidas assistentes conduziriam os concorrentes até aos postes onde outras assistentes menos vestidas os atariam. Depois, e com direito ao sorteio final de um automóvel, seriam escolhidas ao acaso entre a audiência 3 pessoas cuja única tarefa, só por si já com direito a oferta de uma assinatura de linha RDIS da Portugal Telecom, seria carregar em grandes e simpáticos (imaginem um smiley estampado neles) botões encarnados. Premidos os botões, irromperia uma chama por baixo de cada um dos postes e os nossos concorrentes proporcionariam assim o Grande e Esperado Final de mais uma sessão do SOS, iluminando a praça num glorioso fim de tarde com a sua combustão. Novamente as câmaras percorrem o público e as suas diversas reacções. Consumada a combustão (ou ainda durante a dita), entra o nosso apresentador e as assistentes, dançando uma qualquer música divertida e dizendo "adeus a todos e até ao próoooximo Saaanto Ofício Show!!!!!!!!!!!!!!!!!" Acham cruel? Acham ilegal? Acham triste? Retrógrados. Puritanos. Provincianos. Que falta de respeito pela Democracia, pelos Media e pela Liberdade de Entreter e Informar. É só espectáculo. Só participa quem quer e vê quem quer. Ninguém vos obriga a arder ou a ver a TVI, podem sempre ir ver outro concurso qualquer apresentado por outro palhaço na pública RTP 1. Ou, se for natural no vosso segmento de mercado, assistir a um documentário ou uma peça de Shakespeare. Como disse o Vasconcelos realizador louvando as dobragens, para as élites há sempre o acesso aos filmes legendados. Talvez vos interesse um canal pay-per-view exclusivamente com documentários sobre tubarões, que lançaremos em breve. Estamos conscientes (eu e certamente a TVI) de que não podemos obrigar certas minorias a gostar dos nossos programas, mas os nossos estudos de mercado indicam que o SOS trará à TVI um "share" sem precedentes, e às praças públicas uma animação como há muito não se via. Há melhor televisão que aquela que dá ao público aquilo que ele quer? |