Vamos lá ver se nos entendemos. Os senhores do google.com têm um pesquisador que funciona há uns largos meses. Durante esse tempo fizeram trabalho de divulgação do nome "google", investiram esforço em criar serviços e promovê-los, desenvolveram software, instalaram equipamentos, contrataram pessoal e, last but not least, construiram a sua base de dados interna que é a alma do pesquisador. Perante esta situação, aparece uma empreendedora e dinâmica empresa portuguesa que regista o nome "google" debaixo do domínio "pt". Porquê? Para alojar um serviço de informações sobre óculos? Não, nada disso. Parece que a razão verdadeira é que, graças ao trabalho desenvolvido pelos senhores da Google, o nome "google" associado a um pesquisador passou a ser valiosor. Está assim dado o primeiro passo numa trilha bem perigosa: Alguém, valendo-se da forma como se faz a atribuição de nomes de domínios na hierarquia .pt, se apropriou do domínio google.pt, aparentemente apenas porque o trabalho de terceiros tornou esse nome valioso. A coisa tem todo o ar de ser completamente premeditada, planeada e deliberada. Mas claro que não sou um investigador de posse de todos os dados, portanto tenho que deixar uma porta claramente aberta ao factor acaso: Pode ser que tudo seja um enorme acumular de coincidências e que, ao contrário do que parece, não haja qualquer má-fé. Se assim é, cá estamos para ouvir a interessante explicação. Agora entro no perigoso campo da especulação pura: Que coisa pode fazer uma empresa portuguesa com o nome google.pt? Não sei. Muita coisa. Por exemplo, a Google tem um programa de parcerias, e mesmo uma filosofia de distribuição geográfica do trabalho do pesquisador, portanto até é natural que uma empresa interessada naquela actividade tente fazer um acordo comercial com a Google. Até aqui tudo bem. E se a empresa tratar de começar por se apropriar do domínio google.pt? Ah!, então adquire uma carta negocial importante. E proventura usa-a para tentar conseguir melhores condições no acordo comercial que queira fazer. E a Google, compreensivelmente, pode olhar para esta situação, sentir-se ignominiosamente chantageada e mandar a empresa passear. É claro que se trata de um cenário completamente inventado. A única coisa que se sabe, das palavras da empresa portuguesa, é que ''Ainda oficialmente não foi estabelecida uma parceria (com a Google.com), no entanto houve contactos'' Tudo o mais que acima escrevi é, como comecei por referir, especulação pura. No entanto seria realmente positivo conhecer a verdade dos factos. Prosseguindo: Então a empresa portuguesa, dinâmica e empreendedora, apercebeu-se da "oportunidade de negócio" e registou o domínio, e fez também contactos para establecer uma parceria com a Google legítima (contactos esses que não deram em nada, pelo que para todos os efeitos de estabelecimento efectivo de uma parceria é como se não tivessem existido). Pois sim. Mesmo que alguém possa considerar a coisa moralmente questionável, há que reconhecer que até aqui nada há de especialmente invulgar. Mas há mais. Na sua senda gloriosa, a dinâmica e empreendedora empresa portuguesa dá o último, mais dinâmico e mais empreendedor de todos os passos. Sem parceria (ou seja, sem consentimento da Google), constrói uma página onde imita descaradamente o grafismo da Google original e legítima e utiliza ostensivamente os recursos do pesquisador da Google, concretamente anunciando um serviço de pesquisa e realizando-o usando a máquina, CPU, nome, base de dados e largura de banda de terceiros sem sua autorização!!!. Isso está claramente escrito no HTML da página deles: A pesquisa é feita com a instrução <form action="http://www.google.com/search" method="get" name="f"> como se pode ver aqui: http://www.google.pt/google.html. No meu planeta, isto chama-se roubo. Que acontece a seguir? A Google, evidentemente lesada, reage, e a dinâmica e empreendedora empresa nacional responde assim (citação retirada de http://www.digito.pt/tecnolog ia/noticias/tec2327.html): ''não existe nenhuma marca Google nacional, internacional ou comunitária. Bem pelo contrário. Os direitos são nossos, já devidamente registados com todas as prioridades legais. Sabemos que eles tem intenções de entrar no espaço comunitário. Estamos muito atentos e iremos processá-los, se eles entrarem no espaço comunitário'' Ou seja, a empresa dinâmica e empreendedora deseja assegurar o seu saque usando recursos legais da União Europeia e, quicá, apelando a uma qualquer espécie distorcida de "patriotismo". Há algum limite para a falta de vergonha na cara? Os dados são escassos. A única coisa clara e indesmentível é a publicação da página já citada, http://www.google.pt/google.html, que abusa ostensivamente dos recursos de terceiros. E por isso mesmo não me espanta que esta espalhafatosa prova de furto desapareça em menos de nada (razão pela qual tratei que guardar uma cópiazinha pessoal e cifrada, caso alguém um dia precise de uma testemunha num tribunal). Apenas faço votos para que não doam as mãos a quem aplicar a devida Justiça. Para que não haja razão para nos dizerem que aqui reina a balda. Para que não haja qualquer razão para ter vergonha de ser Português. |